Reverendo chora na CPI e admite culpa em negociações

 


Após duas semanas de recesso parlamentar, a CPI da Covid retoma as atividades no Senado Federal na manhã desta terça-feira, 03. A segunda etapa da comissão vai aprofundar as investigações sobre negociações de vacinas envolvendo intermediários sem o aval de fabricantes estrangeiros. Entre os depoimentos cruciais para o avanço das apurações está o do reverendo Amilton Gomes, que chorou e pediu desculpas durante a sessão desta terça.

O depoente admitiu ter culpa nas supostas irregularidades envolvendo as negociações entre o Ministério da Saúde e a Davati Medical Supply para aquisição das doses da AstraZeneca. Além disso, afirmou se arrepender de ter participado das tratativas.

"Eu tenho culpa, sim. Hoje de madrugada, antes de vir para cá, eu dobrei meus joelhos e orei. Eu peço desculpas ao Brasil e o que eu cometi não agradou primeiramente os olhos de Deus", disse Gomes, em lágrimas. "Esse erro que eu cometi foi um erro que, se desse para eu voltar atrás, eu voltaria. Peço perdão a todos os senadores e deputados", continuou.

O reverendo teria sido autorizado pela pasta da Saúde a negociar vacinas da Covid-19 em nome do governo brasileiro.

Fundador da Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários), uma associação evangélica privada, Gomes entrou na mira da CPI após ter sido apontado pelo Policial Militar Luiz Paulo Dominguetti como intermediador entre o governo federal e as empresas que ofereciam vacinas à pasta. 

Em resposta ao relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), o reverendo Amilton disse que "não estava negociando vacinas", mas apenas "indicando alguém que teria essas vacinas". A versão difere da contada pelo policial militar Luiz Paulo Dominguetti, que teria oferecido 400 milhões de doses de AstraZeneca sem autorização do laboratório com a intermediação do reverendo para ser atendido pelo governo federal.

 O reverendo foi questionado pelos senadores porque o ministério da Saúde demorou apenas duas horas para atender a Davati em detrimento dos diversos e-mails sem resposta da Pfizer. 

"Farmacêuticas do mundo todo que estavam vendendo vacinas diretamente [ao governo brasileiro] não tiveram esse tratamento", destacou Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI. E completou em tom de ironia: "Eu acho que o senhor teve muita sorte. É um fenômeno isso". O relator Renan Calheiros (MDB-AL) também lembrou que o presidente Bolsonaro foi contra a compra de vacinas no início. 

 Suposto representante da empresa americana Davati Medical Supply, Dominguetti disse à CPI da Covid que procurou o Ministério da Saúde para oferecer as 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca e que o ex-diretor de logística da pasta Roberto Ferreira Dias teria exigido US$ 1 de propina para cada dose de vacina negociada. Após o encontro, Dominguetti teria procurado a Senah para ajudar a viabilizar o negócio com a Pasta.

Apesar do momento ser de escassês de imunizantes em todo o mundo, devido à grande demanda dos países, o reverendo afirmou que o dono da Davati, Herman Cardenas, afirmou a ele que iria conseguir oferecer a quantidade de vacinas prometida na negociação: "ele garantiu que tinha as vacinas", disse.

 Durante a oitiva, o reverendo também admitiu ter título de embaixador criado por instituição de reverendo Moon, acusado de evasão de divisas nos EUA.

 

Nas mensagens de Dominguetti, que teve o celular apreendido pela CPI, três pessoas supostamente ligadas ao reverendo dizem que Gomes se reuniu com Bolsonaro em 15 de março, o que não foi confirmado por nenhum dos envolvidos.

“Ontem falei com quem manda! Tudo certo! Estão fazendo uma corrida compliance da informação da grande quantidade de vacinas!”, declarou Amilton Gomes em uma das mensagens a Dominguetti. Procurado pelo Globo, na época, Gomes negou o encontro.

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