Não é possível saber se o telefone exibia a notícia da soltura do adversário de Bolsonaro. Mas, na capital goiana, o político do PSL cancelou uma entrevista que estava anunciada por sua própria equipe de comunicação. Não mencionou a soltura de Lula em seu discurso e evitou a imprensa em eventos dos quais participou na cidade e desistiu de uma entrevista que aconteceria em um dos locais.
Após ver a imagem do celular do assessor de imprensa, ainda durante um discurso do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), o presidente cochichou no ouvido com o ministro da Educação, Abraham Weintraub, que estava a seu lado. Na sequência, conversou novamente com o assessor de imprensa que lhe mostrara o telefone celular.
Ao discursar, Bolsonaro tratou da prova do Enem no domingo e da entrega de 214 ônibus escolares para 133 municípios goianos. Ao término do evento, a equipe de comunicação do Planalto chamou os jornalistas para uma entrevista com o presidente. Mas, inesperadamente, a conversa com os repórteres foi cancelada.
Bolsonaro deixou o estacionamento do estádio Serra Dourada, onde participava do evento, e foi até uma casa no Setor Bueno, na capital goiana. Lá, inaugurou o novo escritório político do líder do governo na Câmara, Major Vítor Hugo (PSL-GO). A imprensa não pôde acompanhar o evento.
Ao sair do evento, Bolsonaro tirou várias fotos com apoiadores durante cerca de cinco minutos. Mas não se aproximou da imprensa, que o aguardava a cerca de 50 metros, atrás de uma grade e de seguranças. Dali, foi embora.
Respeito às instituições
Uma hora depois de encerrado o evento de inauguração do escritório do líder do governo, um dos presentes ao evento disse ao UOL que o presidente não comentou diretamente a soltura de Lula, mas tratou com outras pessoas sobre o respeito às instituições. "O presidente disse: 'É respeitar a decisão das instituições, de outro poder'", afirmou à reportagem.Na quinta-feira, o STF derrubou a possibilidade de se prender réus condenados em segunda instância. Isso permitiu que hoje fosse dada uma ordem para soltar o ex-presidente Lula.
Novos ônibus vão atender 15 mil crianças
Bolsonaro participou, na tarde de hoje, da entrega de 214 ônibus escolares, no estacionamento do estádio Serra Dourada. Os veículos serão distribuídos a 133 municípios do estado, que enfrenta grave crise fiscal. A previsão é que os ônibus atendam 15 mil alunos, de acordo com o Ministério da Educação.As dívidas de Goiás somam mais de R$ 21 bilhões. E todos os meses, são acrescidos mais R$ 200 milhões nesse passivo. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), disse ao UOL que está governando com base em liminares judiciais para não quitar débitos com bancos e com o governo federal.
Os 214 ônibus foram entregues com recursos de emendas parlamentares. Foram R$ 43,3 milhões em investimentos, de acordo com comunicado do Ministério da Educação.
"Toda a frota conta com poltronas móveis que facilitam o embarque e desembarque de alunos com deficiência física ou com algum tipo de mobilidade reduzida", informou a assessoria da pasta. A iniciativa faz parte do programa "Caminho da Escola", criado ainda na gestão de Lula.
A assessoria do ministério informa que o projeto é voltado, principalmente, a estudantes de áreas rurais e ribeirinhas. "O programa oferece ônibus, lanchas e bicicletas fabricados especialmente para o tráfego nessas regiões", diz o comunicado do MEC.
A maior parte dos ônibus - 157 deles - transporta 29 estudantes sentados. Cada modelo custou pouco menos de R$ 190 mil. Outros 40 veículos comportam 59 passageiros e custaram pouco menos R$ 229 mil. E 17 ônibus, para 44 alunos, saíram ao preço de R$ 226.500.
Enem não vai "deseducar" ninguém, repete Bolsonaro
No discurso no Serra Dourada, Bolsonaro repetiu que, na primeira parte do Enem, "ninguém foi deseducado nas questões". "E ninguém será deseducado no domingo que vem apensar de eu não ter tido acesso à prova", continuou o presidente.Segundo ele, o governo quer fazer uma prova que "reconhece a família, respeite as crianças sem ideologia política e de gênero". "O que lhes será cobrado, neste momento, será aquilo que seus pais querem e aquilo que interessa ao nosso Brasil", continuou.
Termo "educação" caiu "como luva" para "vermelhinhos"
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, aproveitou o evento para criticar os políticos de esquerda, a quem chamou de "vermelhinhos". Depois de dizer que quem educa, não é a escola, mas a família, ele lembrou do nome do ministério que ele comanda.
"Esse negócio de Ministério de Educação começou com [o ex-presidente] Getúlio Vargas [1882-1954] e caiu como luva para os vermelhinhos", disse ele.