Desde o início do conflito entre o Hamas e Israel no último sábado (7), a oposição ao governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem tentado associar o nome do mandatário ao grupo extremista. O Hamas reivindicou, no fim da semana passada, um bombardeio no sul israelense com mais de 5 mil foguetes em um ataque surpresa, o que foi chamado de operação "Dilúvio de Al-Aqsa", desencadeando no maior conflito que atinge a região nas últimas décadas.
Ainda no sábado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) divulgou uma nota nas redes sociais tentando atrelar o Hamas a Lula, dizendo que o grupo parabenizou o petista pela vitória nas eleições do ano passado.
"Pelo respeito e admiração ao povo de Israel, repudio o ataque terrorista feito pelo Hamas, grupo terrorista que parabenizou Luís Inácio Lula da Silva quando o TRE o anunciou vencedor das eleições de 2022", escreveu Bolsonaro.
À época, Basim Naim, membro do grupo, referiu-se a Lula como "lutador pela liberdade" e considerou a eleição "uma vitória para todos os povos oprimidos ao redor do mundo, particularmente o povo palestino, pois ele é conhecido por seu forte e contínuo apoio aos palestinos em todos os fóruns internacionais".
Nas redes, o ex-ministro da Justiça e hoje senador Sergio Moro (União Brasil)
cobrou que o governo brasileiro declare o Hamas
como um "grupo terrorista" e também citou a mensagem em que o grupo cumprimentou Lula pela vitória em 2022.
"Ruim a nota do Governo Lula. A hora é de condenar, sem condições ou ponderações, os ataques terroristas do grupo Hamas. Mais uma vez, até em situações extremas, a diplomacia presidencial falha. Não é à toa que Hamas parabenizou Lula pela eleição", escreveu.
A nota citada pelo senador foi a divulgada pelo Itamaraty no dia em que os primeiros ataques começaram. No texto, o governo não citou o nome do grupo Hamas, mas disse que "não há justificativa para o recurso à violência, sobretudo contra civis, o governo brasileiro exorta todas as partes a exercerem máxima contenção a fim de evitar a escalada da situação".
Em seu perfil do X (antigo Twitter), no entanto, o presidente Lula classificou os ataques do Hamas como "terroristas" e condenou a situação ainda no sábado.
"Fiquei chocado com os ataques terroristas realizados hoje contra civis em Israel, que causaram numerosas vítimas. Ao expressar minhas condolências aos familiares das vítimas, reafirmo meu repúdio ao terrorismo em qualquer de suas formas", escreveu, dizendo que o "Brasil não poupará esforços" para evitar a escalada do conflito.
O senador Flávio Bolsonaro (PL)
acusou o governo Lula
de estar fazendo "malabarismo" e "relativismo" para não se indispor com
"os 'combatentes' do Hamas". "Até quando Lula irá se calar sobre os
ataques desses terroristas?", questionou em publicação.
Postura mais contundente
Deputados da oposição vêm pressionando o governo Lula a adotar uma postura mais contundente diante do conflito. No entendimento deles, é necessário repudiar as ações do Hamas de maneira mais efetiva e não relativizar os crimes que vêm acontecendo na região.
Apesar da publicação de Lula nas redes, o Brasil só considera como terrorista os grupos que forem classificados dessa maneira pela Organização das Nações Unidos (ONU), o que não é o caso do Hamas.
Em 2021, dez deputados petistas divulgaram uma nota contrária à classificação do Hamas como grupo terrorista. Alguns deles hoje fazem parte do governo de Lula, como o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.
"Os parlamentares, entidades e lideranças brasileiras que
subscrevem este documento, expressam o seu profundo descontentamento à
declaração da secretária do Interior da Inglaterra, Priti Patel, que
atribuiu ao Movimento de Resistência Islâmico – Hamas, a designação de
‘organização terrorista’, alegando falsamente que o Movimento palestino
seria ‘fundamentalmente e radicalmente antissemita'", afirma o documento
divulgado pela GloboNews
.
O texto foi redigido após o governo britânico atribuir essa classificação ao Hamas. Além do Reino Unido, o grupo é considerado terrorista por outros países, como Estados Unidos e pela União Europeia.
Após o documento voltar a repercutir, Padilha
disse ter assinado o texto porque o mundo vivia uma "fase aguda da
pandemia" e isso poderia aumentar ainda mais a tensão em áreas de
conflito no Oriente Médio.
"Assinei esse documento, naquele contexto, porque aumentar o tensionamento com organizações da região tornaria ainda mais difícil garantir ações de cuidado pelos governos locais ou obter ajuda internacional para àquelas localidades, de modo a assegurar cuidados de saúde e água a milhões de inocentes que ali vivem", escreveu nas redes.
Antes disso, o ministro também repudiou os ataques. "Presto minhas condolências às vitimas dos ataques realizados contra civis, em Israel. O Brasil reafirma seu repúdio ao terrorismo em todas as suas formas e não medirá esforços para evitar a escalada do conflito", afirmou.
Além dele, outros ministros do governo também se manifestaram sobre os bombardeios, como Juscelino Filho (Comunicações) e Wellington Dias (Desenvolvimento Social).
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