com a força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba implodiu a relação da gestão da Procuradoria-Geral da República (PGR) com todas as forças-tarefas da Lava-Jato, incluindo também as do Rio e de São Paulo.
Como revelado ontem pelo GLOBO, a crise teve início após o envio de um ofício pela força-tarefa de Curitiba à Corregedoria do Ministério Público Federal acusando Lindora de, durante uma ida a Curitiba, ter realizado uma manobra ilegal para copiar dados sigilosos da operação, sem formalizar um pedido de acesso. Com o desgaste, a ação de Lindora provocou, ainda na noite de sexta, um pedido de demissão coletiva dos procuradores do grupo de trabalho da Lava-Jato na PGR, que agora fica sem nenhum integrante.
Respeitados internamente, os procuradores do grupo da Lava-Jato na PGR eram o principal ponto de interlocução das forças-tarefas de Curitiba, Rio e São Paulo com a gestão Aras. Por isso, logo após o pedido de demissão coletiva, as forças-tarefas se posicionaram em apoio aos procuradores e emitiram uma nota pública. A nota também foi assinada pelos integrantes da Força-Tarefa Greenfield, de Brasília.
A nota classifica os procuradores que pediram demissão da PGR como “competentes, dedicados, experientes e amplamente comprometidos com a integridade, a causa pública e o combate à corrupção e enfrentamento da macrocriminalidade”. Segundo a nota, eles “cooperaram amplamente em importantes trabalhos conjuntos com as forças-tarefas Lava-Jato e Greenfield, razão pela qual os seus integrantes expressam seu profundo agradecimento e admiração”. Os quatro procuradores são citados nominalmente na nota: Hebert Reis Mesquita, Luana Vargas Macedo, Maria Clara Barros Noleto e Victor Riccely.
A avaliação interna das forças-tarefas é que se instalou uma crise de confiança envolvendo a subprocuradora-geral da República Lindora Araújo, que ocupa a função de coordenadora do grupo de trabalho da Lava-Jato na PGR e teria a atribuição de apoiar e auxiliar no trabalho dessas forças-tarefas. Com isso, a tendência é que o diálogo existente com Lindora, que já era pouco, seja reduzido a zero.
Essa desconfiança já vinha desde que veio a público a negociação, pela PGR, de um acordo de colaboração premiada com o advogado foragido Rodrigo Tacla Duran, que lançava suspeitas sobre um amigo do ex-ministro da Justiça Sergio Moro e sobre a atuação da Lava-Jato de Curitiba. Essas suspeitas já haviam sido investigadas e arquivadas pela própria PGR. Responsável por essa negociação, Lindora tocou o acordo sem a participação da força-tarefa da Lava-Jato de Curitiba, que tomou conhecimento da negociação pela imprensa. O caso foi revelado pelo GLOBO.
Como as investigações que correm em primeira instância não precisam de participação da PGR, a orientação nas forças-tarefas é seguir tocando o trabalho normalmente. Caso haja necessidade de diálogo com Brasília devido ao surgimento de políticos com foro privilegiado nas investigações, ainda não se sabe de que forma esse diálogo se daria.
A falta de confiança, entretanto, deve abalar o andamento das investigações. O bom relacionamento das forças-tarefas com as gestões anteriores da PGR permitiu a rápida evolução de diversos trabalhos em conjunto. No início da Lava-Jato, os primeiros acordos de delação premiada foram assinados com o aval e participação do então PGR Rodrigo Janot.
Já sob a gestão de Raquel Dodge, embora o ritmo das investigações tenha diminuído, a Lava-Jato do Rio assinou diversos acordos de colaboração em conjunto com a PGR que permitiram o rápido andamento de inquéritos contra conselheiros do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ) e que culminaram na prisão do então governador Luiz Fernando Pezão (MDB). No caso da gestão Aras, esses trabalhos agora devem passar a ocorrer de forma descoordenada e isoladamente.
0 Comentários