‘Moro, o Valeixo sai nessa semana. Isso está decidido’


O presidente Jair Bolsonaro escreveu, em mensagem enviada em 22 de abril ao então ministro da Justiça, Sergio Moro, que estava “decidido” que o então diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, deixaria a chefia da corporação naquela semana.

As mensagens foram reveladas pelo jornal O Estado de São Paulo e integram o inquérito presidido pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Celso de Mello que investiga se Bolsonaro interferiu na Polícia Federal para ter acesso a investigações –conforme acusou Moro.
Bolsonaro enviou as mensagens ao então ministro pelo WhatsApp, às 6h26 de 22 de abril. “Moro, o Valeixo sai nessa semana. Isto está decidido. Você pode dizer apenas a forma. A pedido ou ex oficio [sic]”, escreveu.
O ex-juiz da Lava Jato respondeu às 6h37. “Presidente, sobre esse assunto precisamos conversar pessoalmente. Estou ah disposição para tanto“, disse Moro.





A troca de mensagens foi retirada do celular do ex-ministro, que entregou o aparelho ao prestar depoimento no inquérito que investiga a suposta interferência de Bolsonaro na PF, em 2 de maio.
Deputados pediram a Celso de Mello que determine também a apreensão do aparelho celular de Bolsonaro. O ministro encaminhou o pedido para manifestação da PGR (Procuradoria Geral da República). Bolsonaro, no entanto, afirmou nessa 6ª feira (23.mai.2020) que não entregará seu celular mesmo se houver decisão judicial nesse sentido.

A exoneração de Valeixo

Valeixo foi exonerado do cargo de coordenador-geral da Polícia Federal em 24 de abril, o que levou Moro a pedir demissão no mesmo dia. O ex-juiz da Lava Jato deixou o governo acusando o presidente de ter tentado interferir na PF para ter na corporação “uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher informações, que ele pudesse colher relatórios de inteligência”.
Horas mais tarde, Bolsonaro fez pronunciamento no qual afirmou que o próprio Valeixo havia pedido para ser demitido.
“O diretor-geral da Polícia Federal… era a intenção dele, como ele declarou ontem [23 de abril]. Que desde janeiro queria sair. Nós cansamos, nós não somos máquinas. No dia de ontem eu conversei com o senhor Sergio Moro, só eu e ele. Como na maioria das vezes das nossas conversas. Eu sempre abri o coração para ele. Eu já duvido se ele sempre abriu o coração para mim“, disse Bolsonaro na ocasião.
A exoneração ocorreu após uma conversa minha com o ministro da Justiça pela manhã de ontem [23 de abril]À noite, eu e o Doutor Valeixo conversamos por telefone e ele concordou com a exoneração a pedido. Desculpe, senhor ministro, o senhor não vai me chamar de mentiroso. Não existe uma acusação mais grave para 1 homem como eu, militar, cristão e presidente da República de ser acusado disso. Essa foi a minha conversa com o Doutor Valeixo“, relatou em outro momento.
O ato que confirmou a exoneração de Valeixo foi publicado no Diário Oficial da União de 24 de abril como se tivesse sido “a pedido” do então diretor-geral da PF. No fim da tarde, o ato foi republicado em edição extra do DOU, dessa vez sem essa justificativa.

Mensagens antes de reunião

A troca de mensagens entre Moro e Bolsonaro ocorreu horas antes de reunião ministerial realizada no Planalto, às 10h de 22 de abril. Naquele encontro, Bolsonaro reclamou que não recebe informações e ameaçou trocar ministros. Reclamou também da “segurança no Rio de Janeiro“, o que, de acordo com Moro, referia-se à superintendência da PF no Estado. O presidente afirma que se tratava da equipe que faz a segurança de sua família, sob responsabilidade do GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
Reportagem do Jornal Nacional mostrou que Bolsonaro promoveu integrantes da equipe que faz a segurança de sua família no Rio, o que contraria a versão de que ele estaria insatisfeito. Já em agosto do ano passado, Bolsonaro tentou trocar o superintendente da PF no Rio, Ricardo Saadi. À época, a Polícia Federal tinha inquérito que investigava o filho mais velho do presidente, Jair Bolsonaro (Republicanos-RJ).
No vídeo da reunião de 22 de abril, tornado público por decisão do ministro Celso de Mello, Bolsonaro menciona que tentou fazer troca no Rio de Janeiro, e associa esse ato à proteção de sua família e amigos.
“Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui! E isso acabou. Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira”, afirmou.

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