Bolsonaro e Crivella reforçam aliança enquanto se isolam de governadores


A cena deve ser típica da política, apesar das circunstâncias excepcionais: está prevista para esta sexta-feira (02) a inauguração, no Rio de Janeiro, de um hospital de campanha montado pela prefeitura para doentes do novo coronavírus.
O prefeito Marcelo Crivella convidou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para o evento, que confirmou a presença na manhã de ontem a apoiadores em frente ao Palácio do Planalto. Horas depois a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência informou que Bolsonaro não iria comparecer. Apesar da provável ausência, o presidente está cada vez mais próximo do prefeito do Rio.
O vereador Carlos Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro, filhos do presidente, acabam de se filiar ao partido Republicanos, de Crivella. O prefeito quer o apoio do clã Bolsonaro à sua reeleição e pode dar em troca uma relação próxima com os evangélicos, já que é sobrinho do bispo Edir Macedo.
Tanto Crivella quanto Bolsonaro tem destoado de outras lideranças, no Brasil e no mundo, por questionarem publicamente a orientação de especialistas em saúde pública de que um isolamento social forte é a única forma de achatar a curva de infectados pelo vírus e evitar o colapso do sistema de saúde.
Curiosamente, tanto presidente quanto prefeito tiveram experiências próximas com a doença: Bolsonaro teve mais de 20 membros da sua comitiva para os Estados Unidos confirmados com o vírus e fez dois testes que segundo ele deram negativo, mas que nunca foram divulgados. Já Crivella aguarda o resultado de seu exame após casos suspeitos surgirem na prefeitura.
Os principais antagonistas da dupla são os governadores, que têm adotado posições unificadas. O convite do prefeito a Bolsonaro para a inauguração do hospital, por exemplo, foi lamentado pelo governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), para quem “não é o momento de fazer política”.
Witzel e Crivella estão em uma briga jurídica diante da decisão do prefeito, no final da semana passada, de abrir parcialmente lojas de construção e de conveniência. O estado do Rio de Janeiro contabiliza 992 infectados e 41 mortos.
Em novo pronunciamento em rede nacional na terça-feira (31), Bolsonaro adotou um tom mais ameno, falou que a doença era o maior desafio da sua geração e pediu um “pacto nacional” que incluísse os governadores.
Em transmissão ao vivo ontem, voltou a relativizar o problema e criticar tanto Witzel quanto João Doria, governador de São Paulo. As tréguas políticas estão durando pouco; enquanto isso, a doença não dá trégua. Já são 299 mortos e quase 8 mil casos confirmados no país.

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