Bolsonaro abaixa tom: prevenção importa, mas emprego deve ser preservado


Em pronunciamento em rede nacional nesta terça-feira, 31, o presidente Jair Bolsonaro abaixou o tom de questionamento à gravidade do coronavírus.
Ele falou em “grande pacto”, chamou a doença de “maior desafio da nossa geração” e disse que sua preocupação “sempre foi salvar vidas”, seja da doença, seja de desemprego e violência.
O presidente também disse que “não existe remédio com eficiência comprovada” contra a doença causada pelo coronavírus, apesar de haver estudos promissores sobre a cloroquina. Essa posição também foi uma reversão da anterior, em que o presidente chegava a andar com caixas do remédio.
“Desde o início do governo temos trabalhado em todas as frentes”, disse o presidente, destacando medidas de aumento da capacidade de leitos com respiradores, além de equipamentos de proteção individual e kits para testes.
Ele também citou medidas de apoio econômicas, como ajuda financeira aos estados e municípios, com os quais Bolsonaro tem se chocado frequentemente, ampliação do Bolsa Família, auxílio mensal para vulneráveis e congelamento dos preços dos remédios por 60 dias.
Foi o quarto pronunciamento em rede nacional do presidente desde o dia 6 de março ante o agravamento da pandemia do novo coronavírus. O último balanço oficial do Ministério da Saúde contabiliza 201 mortos e 5.717 casos confirmados da doença no país.
O questionamento das medidas de confinamento recomendadas pelas autoridades de saúde e adotadas por governadores e por chefes de Estado ao redor do mundo tem deixado o presidente cada vez mais isolado no mundo político e internacionalmente.
Parte do pronunciamento de hoje, de cerca de 8 minutos, reproduziu trechos de uma fala de Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, sobre a importância de olhar para os mais vulneráveis nesta crise.
“Não me valho dessas palavras para negar a importância das medidas de prevenção e controle da pandemia”, disse Bolsonaro no discurso.
Hoje mais cedo, um vídeo editado da fala de Tedros foi postado por uma conta criada neste mês e replicado pelo presidente, por seus filhos Carlos, Eduardo e Flávio e por aliados do presidente.
Tedros destacou em coletiva na segunda-feira 30 que trabalhadores autônomos e informais não têm reservas e são prejudicados, mas não relacionou isso com a defesa do fim do isolamento, e sim com a necessidade de políticas para garantir renda.
“Vocês viram o que o diretor-presidente da OMS falou, não? Alguém viu aí? Que tal eu ocupar rede nacional de rádio e TV hoje à noite para falar sobre isso?”, havia comentado o presidente Bolsonaro hoje mais cedo na frente do Planalto.
Em vários pontos do país foram registrados panelaços no momento em que o presidente fazia o pronunciamento em rede nacional. Em São Paulo, em bairros da zona sul, oeste e da área central da cidade ocorreram manifestações pelas janelas de casas e apartamentos.
Isolamento
Nesta terça-feira, 31, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, participou de uma coletiva de imprensa no qual voltou a destacar a necessidade do isolamento e não corroborou a versão distorcida do discurso de Tedros.
“O que eu entendi da posição da OMS é que há, sim, que se fazer essa consideração [econômica], mas sem abrir mão em momento nenhum da ciência”, disse Mandetta.
“O que ele fez são considerações, muito forçado pela situação da Índia, da África”, disse o ministro, destacando que a OMS não dá “receita de bolo”.
O ministro voltou a enfatizar que é necessário o “máximo de distanciamento social neste momento” e que não serão feitas “medidas que sejam arriscadas para nosso povo”.

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