Bolsonaro se alinha a corrente no Whatsapp ao endossar atos no domingo


Inicialmente, Jair Bolsonaro (sem partido) negou que tivesse apoiado as manifestações agendadas para o domingo (15). Mas nos últimos dias, após respaldar os atos, o presidente da República passou a adotar discurso alinhado ao das redes sociais bolsonaristas, contrário ao controle de até R$ 30 bilhões do Orçamento por parte do Parlamento.
"Se até o dia 15, os presidentes da Câmara e do Senado anunciam algo no tocante a dizer que não aceitam isso e se a proposta chamada PLN4 tiver dúvida no tocante a ficar com eles, para que venham destinar os recursos para onde eles acharem melhor, e não o Executivo, acredito que eles possam botar até um ponto final na manifestação", disse Bolsonaro ontem nos Estados Unidos.
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Enquanto isso, em grupos bolsonaristas no Whatsapp, uma corrente afirma que "Rodrigo Maia [presidente da Câmara] e Davi Alcolumbre [presidente do Senado] estão a um passo de conseguir aprovar este absurdo. O Congresso tomará o controle de mais de R$ 15 bilhões do Orçamento, jogando Bolsonaro para escanteio".Não é possível saber quem pautou quem — se a fala do presidente inspirou o post no Whatsapp, ou o contrário.
A mensagem segue com pedido de compartilhamento e com link para uma campanha com o nome "15binão", mantida pelo grupo de direita Vem Pra Rua.
Maia e Alcolumbre não responderam diretamente a provocação de Bolsonaro. Ontem, na festa de lançamento do canal de TV CNN Brasil, o presidente do Senado, sem mencionar Bolsonaro, disse que o Parlamento não se furtará "de tomar a dianteira nas decisões importantes para nosso país".
As falas nos EUA se somam à convocação feita por Bolsonaro em Boa Vista (Roraima), no último sábado.

O que é o PLN4

O Projeto de Lei do Congresso Nacional 4, a que o presidente e o grupo se referem, é parte do acordo feito pelo governo com os parlamentares para evitar a derrubada dos vetos de Bolsonaro à Lei de Diretrizes Orçamentárias, negociado pela equipe econômica e com aval do próprio presidente.
O texto dá aos parlamentares o controle de 15 bilhões de reais no Orçamento, de um total de 30 bilhões que originalmente foram passados do Orçamento dos ministérios para as emendas do relator.

Pauta ampla

Mas o controle do Orçamento não é unanimidade entre os perfis que convocam manifestantes para o domingo.
Postagens em grupos pró-Bolsonaro no Facebook defendem também o fechamento do Congresso Nacional, do STF (Supremo Tribunal Federal) e uma "intervenção militar" — temas que não contam publicamente com o apoio de Bolsonaro.
Além disso, os grupos têm esquentado nos últimos dias com críticas à reportagem do médico Drauzio Varella, que abraçou na prisão uma transexual acusada de estupro e assassinato de menor no Fantástico.
"Diluem a pauta contra o Congresso e ampliam para a linha de defesa de pautas bolsonaristas como o moralismo e contra a TV Globo", diz David Nemer, professor do Departamento de Estudos da Mídia da Universidade de Virgínia, nos EUA.
Ele monitora grupos bolsonaristas nas redes sociais e no WhatsApp e vê ampliação do leque de pautas como estratégia para evitar fracasso nas manifestações.
"Tudo é motivo agora para o 15 de março", diz Nemer.
Ele ainda lembra os protestos pró-governo de maio de 2019, que não tiveram adesão nas ruas, apesar de terem força nas redes.

Medo do coronavírus

Hoje, o Estadão divulgou que uma ala do governo quer que Bolsonaro faça um pronunciamento ao país pela TV pedindo para seus apoiadores não irem às ruas. O motivo é a epidemia de coronavírus.
Segundo Nemer, isso tem relação direta com o evento do CPAC (movimento conservador americano que tem apoio de parte do partido Republicano e do qual Eduardo Bolsonaro é representante no Brasil). Ted Cruz, um dos principais líderes do movimento, se colocou de quarentena após apertar a mão de uma pessoa com coronavírus durante o evento.
Em paralelo, cresce nas redes Bolsonaristas o compartilhamento de uma mensagem sem comprovação que diz que as manifestações do dia 15 são ideia de um infiltrado do PT. O oposicionista teria invadido a conta de Bolsonaro e convocado para as manifestações com o objetivo de contaminar e matar o maior número possível de "patriotas".