
A ideia do treinador era emular o que deu certo nas poucas atuações ruins dos rubro-negros nos últimos tempos. Uma delas justamente na final continental, contra o River Plate. O gigante argentino, comandado por Marcelo Gallardo, apostou em algumas características diferentes para segurar o veloz Flamengo de Jorge Jesus. E conseguiu quase por 90 minutos, quando Gabigol marcou duas vezes e deu o bi da América ao time da Gávea.
"Treinamos bolas de paralela nas laterais, nas costas da zaga, para construir do início, para alongar, mas não conseguimos fazer isso no primeiro tempo. Os gols saíram cedo e isso causou instabilidade e desorganização. No intervalo, falei para fazermos o que treinamos. Nós ainda tomamos o terceiro", opinou Odair, em coletiva após a derrota.
Com a bola, a ideia era ganhar território. Só a posse inócua se mostrava ineficaz contra os rubro-negros, que apostam em uma alta intensidade e constantes mudanças de posição para vencer as partidas. Por isso, Odair treinou tanto a saída com passes desde a primeira linha quanto as bolas longas nas costas dos veteranos laterais e dos (novos) lentos zagueiros rubro-negros, que atuam adiantados.
A estratégia não deu certo no primeiro tempo, pois além de ter sofrido dois gols em menos de 10 minutos, o Flu não teve a bola, já que o Fla, inteligentemente, preferiu colocar o rival na roda que tentar chegar à área adversária a todo instante.

O que deu errado no primeiro tempo
Isso acontecia também porque sem bola, o Tricolor adiantava demais suas linhas, sem capacidade de recuperação suficiente. Com os lentos Luccas Claro e Digão protegidos apenas por Yuri e Henrique, que não fizeram boa partida, a defesa ficou exposta aos velozes e habilidosos Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol.O camisa 8 do Flu, inclusive, foi facilmente batido pelo artilheiro rubro-negro no segundo gol, em exemplo claro de que a falta de velocidade cobrava a conta. Contra times mais velozes, com esta formação, a equipe irá sofrer na recomposição.

O que passou a dar certo
O segundo tempo começou com uma boa chance do Tricolor: Digão descolou ótimo lançamento para Evanílson, que esperou o erro de Gustavo Henrique e ganhou a jogada pela esquerda, mas parou em Diego Alves. Quando o time parecia melhorar, sofreu o terceiro, um golaço de Filipe Luís.A partir daí, o técnico Odair Hellmann, criticado por supostamente ser "retranqueiro", teve sua ousadia premiada: insistiu em manter a marcação alta na defesa rubro-negra, o que até então não vinha dando certo. Sem o "perde e pressiona" funcionando, o Fluminense era presa fácil principalmente pelo meio, onde Arrascaeta, Everton Ribeiro e Gerson jogavam soltos. A saída deste último, que deu lugar a Diego, somada à entrada de Fernando Pacheco no Flu, modificou totalmente a partida.
"Depois disso, tudo o que pensamos, conseguimos colocar em prática. A gente gerou desconforto para eles. Tivemos o domínio da partida depois do terceiro gol deles e por isso merecíamos o empate. A linha deles não se compactava mais porque não sabia se saía curta ou longa, num passe, com movimento do Evanilson, Pacheco e Marcos Paulo. Foi o que treinamos e foi o que aconteceu. Eles tiveram o primeiro tempo e nós o segundo. Eles terminaram fazendo cêra, o que eu não via fazia tempo", declarou o treinador.

Poderia ter sido diferente
As substituições certeiras são um ponto positivo para Odair Hellmann, que errou em algumas opções para o início do jogo. Já veterano, Henrique não era o jogador ideal para acompanhar o veloz setor ofensivo do rival, enquanto Nenê - ou Ganso - poderia auxiliar a construção de jogadas em vez de se prender entre as linhas.
Na zaga, Luccas Claro, que fez outro gol de cabeça, perdeu a maioria das disputas na primeira etapa para o ataque rubro-negro. No segundo, melhorou, mas com ressalvas: Bruno Henrique e Gabigol estavam exaustos, e o ataque do Fluminense, pressionando o Flamengo em seu campo, facilitou os duelos, antes mais difíceis. Nino, de volta da seleção olímpica, e Matheus Ferraz, superior no alto e no chão, são jogadores mais completos e devem brigar pela vaga de titular.

"Você viu que a partir do momento que a gente conseguiu produzir não só essa bola de infiltração, mas também, como já o Flamengo não conseguia mais pressionar alto e a defesa não conseguia compactar tanto. E aí você precisa desses jogadores de velocidade para romper essa linha, como o Caio e o Pacheco. Depois tirei um volante para que essa bola viesse ainda mais qualificada com o passe do Ganso, não só pelo chão, mas com uma bola de infiltração. A ideia foi essa, foi dar velocidade com esses dois jogadores (Caio e Pacheco) e foi dar passe de qualificação, não só de infiltração, mas curto na organização desde trás, porque a gente estava conseguindo jogar lá trás com mais facilidade", destacou o treinador.
O desafio na cabeça de Odair Hellmann não terá muito tempo para ser resolvido. Na terça-feira (18), às 19h15, o Fluminense enfrenta o Union La Calera, no Chile, precisando marcar gols para passar de fase na Copa Sul-Americana. A vitória ou empates a partir de dois gols classificam o Tricolor.