Acabou! Quatro décadas e onze filmes depois (ok, são nove na trama principal, mas me deixa…),
Star Wars chega ao fim com o bombástico e divisivo
A Ascensão Skywalker
(em cartaz em um cinema perto de você!). Entre dúzias de personagens,
mundos e reviravoltas, o cinema experimentou sua mudança mais profunda
quando George Lucas viu seu terceiro longa transformar-se em um fenômeno
global, em marco zero da cultura pop, em indústria bilionária.
Star Wars
é uma das propriedades intelectuais mais valiosas do planeta, mas é
sempre bom lembrar que, antes dos Funko Pop, das toalhas de mesa, das
formas de gelo e dos kit LEGO que valeu a entrada de uma casa, a coisa
toda começou no cinema. E é para esse templo sagrado que voltamos nosso
olhar ao classificar cada uma das empreitadas em tela grande. Não foi
fácil, mas fui justo! Concorda? Discorda? Então solte o verbo nos
comentários, nas redes sociais, durante a Ceia do Natal. E que a Força…
ah, chega!
11. A AMEAÇA FANTASMA(
George Lucas, 1999)
Sem
um protagonista, sem personagens minimamente desenvolvidos e dirigido
por George Lucas no modo preguiça máxima, a aventura que pretendia
contar a história de Darth Vader é um excelente indutor ao sono, que
ganha pulso unicamente em seu clímax, quando os cavaleiros Jedi Qui-Gon
Jinn (Liam Neeson) e Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) enfrentam o lorde
Sith Darth Maul (Ray Park). Mas aí já é tarde, porque não existe a menor
conexão emocional com absolutamente nada. Bônus: Jar Jar Binks.
10. ATAQUE DOS CLONES(
George Lucas, 2002)
Ligeiramente superior a seu antecessor,
Ataque dos Clones
traz Lucas completamente apaixonado pelas possibilidades de usar
cenários virtuais, aposentando quase por completo o trabalho de maquetes
e miniaturas ainda usado em
A Ameaça Fantasma, o que lhe
conferia ao menos uma sensação de mundo real. Até isso é perdido aqui,
em uma filme com atores se virando ao máximo em cenários de videogame. O
que salva mesmo é Ewan McGregor, esforçando-se ao máximo para
transformar seu Obi-Wan em um personagem multidimensional, que pode de
fato correr algum risco. Quanto ao romance de Padmé (Natalie Portman) e
Anakin (Hayden Christenssen), uma única conclusão: Lucas não faz a menor
ideia de como escrever ou filmar um romance. Vergonha.
9. HAN SOLO(
Ron Howard, 2018)
Quando
os bastidores de um filme são caóticos, o resultado por ser genial ou
uma completa bagunça. Infelizmente, aqui ficamos com a segunda opção.
Alden Ehrenreich encarou a dificílima tarefa de assumir o papel de Han
Solo, simplesmente um dos heróis mais icônicos do cinema, imortalizado
por Harrison Ford. Ele não faz um trabalho ruim, mas seria bom que
tivesse ao menos algum material com o que trabalhar. O problema de
"prólogos" como
Han Solo é que o roteiro precisa se encaixar em
acontecimentos que a plateia já conhece de antemão, reduzindo
drasticamente as possibilidades dramáticas. Mais ainda: nem tudo precisa
ser explicado, rapazes. Mais ainda parte 2: embora seja
Star Wars, em nenhum momento parece
Star Wars.
Ao menos uma sequência é digna de nota: o ataque de Solo e cia. a um
trem de carga do Império. É uma cena linda, empolgante e tecnicamente
perfeita!
8. A VINGANÇA DOS SITH(
George Lucas, 2005)
Por onde começar?
A Vingança dos Sith
existe unicamente para mostrar a queda da República e a transformação
de Anakin Skywalker em Darth Vader. Só. Para emoldurar, Lucas bolou uma
trama política entediante e se viu na obrigação de resolver o romance
trágico de Padmé e o jovem Jedi. Ao menos o diretor (finalmente)
demonstrou alguma preocupação com desenvolvimento de personagem e arco
dramático, e a partir do momento em que Anakin abraça o Lado Sombrio da
Força, o filme ganha fôlego, porque é a primeira vez que Hayden
Christenssen parece interpretar um personagem conflituoso, em dúvida com
suas decisões e com seu destino. Seu duelo épico com Obi-Wan em um
mundo feito de lava estende-se um pouco além do razoável, mais ainda
assim contorna seu artificialismo com emoção genuína. O final agridoce é
um dos melhores de toda a saga.
7. A ASCENSÃO SKYWALKER(
J.J. Abrams, 2019)
Aqui
temos o perfeito exemplo de um estúdio perdendo a mão ao tentar agradar
a um punhado de fãs ranhetas. Algumas das excelentes decisões criativas
de
Os Últimos Jedi foram jogadas pela janela porque executivos
cederam à parcela mais birrenta dos fanáticos. Em resumo: a ideia
bacana de que qualquer um pode ser um Jedi foi grosseiramente
substituída por laços de sangue. Ou seja, só a realeza pode ter esse
poder. Uma tremenda bobagem que o roteiro claudicante não sustenta
(trazer Palpatine de volta, de maneira tão largada, foi a pior decisão
criativa de toda a saga). Ainda assim, o elenco faz o possível para
segurar a narrativa na base do carisma, e o ponto final definitivo da
história da família Skywalker amarra tudo de maneira ok. Não genial, nem
grandiosa, mas só ok.
6. O RETORNO DE JEDI(
Richard Marquand, 1983)
Star Wars nunca fez exatamente muito sentido. Mas o roteiro de
O Retorno de Jedi
força a barra legal. Alguém consegue, por favor, explicar qual seria
afinal o plano de Luke Skywalker para resgatar Han Solo das mãos de
Jabba? E por que Han, um dos anti-heróis mais espetaculares da história,
acordou de sua hibernação forçada sem o menor charme ou carisma? Mais
ainda, será que o Império podia ser mais incompetente ao perder uma
batalha contra um bando de ursinhos de pelúcia? A infantilização da
série não é ao acaso, já que George Lucas nunca escondeu que
Star Wars
é uma história para crianças. Mas não precisava forçar a barra. Ainda
assim, a direção dinâmica de Marquand (procure seu ótimo thriller de
guerra
O Buraco da Agulha) garante adrenalina nos momentos
certos, e a batalha final contra a nova Estrela da Morte é um feito
técnico espetacular. Seria um bom fim, mesmo com os retoques digitais
toscos de 1997 (a banda no covil de Jabba é, na falta de uma palavra
melhor, ridícula). Mas não era pra ser.
5. O DESPERTAR DA FORÇA(
J.J. Abrams, 2015)
Ao retomar a saga já sob a gerência da Disney, J.J. Abrams criou uma aventura belíssima. Ao seguir a estrutura narrativa do
Guerra nas Estrelas
original, ele lembrou ao público porque nos apaixonamos pela aventura
fantástica de George Lucas em primeiro lugar. Os novos personagens
também empolgam, com o mistério de Rey (Daisy Ridley) e a herança de
Kylo Ren (Adam Driver) impulsionando a trama. Seria covardia uma
comparação com os protagonistas originais, que surgem para dar sua
bênção a uma nova geração. Foi bacana rever Harrison Ford como Han Solo e
Carrie Fischer como a princesa (ops, general) Leia. Também foi
inteligente a decisão em reapresentar Luke Skywalker (Mark Hamill) só
nos últimos momentos do filme: o filme não é sobre ele, e sim sobre o
sangue novo na história. Bem amarrado, respeitoso com o passado e sem
medo de abrir novas portas para o futuro,
O Despertar da Força é um filmaço que merece estar entre os grandes momentos de
Star Wars.
4. ROGUE ONE(
Gareth Edwards, 2016)
Ninguém precisa procurar um modelo para o futuro de
Star Wars após o términa da saga Skywalker: ele já existe e atende por
Rogue One.
O filme de Gareth Edwards insere-se marginalmente no universo da série,
usando personagens conhecidos para ancorar sua cronologia. No caso,
Darth Vader, que aqui mostra pela primeira vez no cinema porque se
tornou alguém tão temido e perigoso na hierarquia do Império. Sua
presença assombra cada pedaço da aventura, que usa estrutura de filme de
guerra ao estilo
Os Doze Condenados para estabelecer sua
missão e seus riscos. Jyn Erso (Falicity Jones), filha perdida de um
cientista imperial, é convocada pela Aliança Rebelde para encabeçar uma
missão vital: roubar os planos de uma estação de combate que pode pender
a balança do conflito para o lado dos vilões. Ela reúne, entre espiões,
soldados e desertores, um time de párias para um ataque em uma base
fortemente armada. E é isso. O mais bacana de
Rogue One é que,
ao lidar com personagens desconhecidos, não temos a menos ideia de como a
coisa vai se desenrolar. Como o filme é ambientado imediatamente antes
dos eventos do
Guerra nas Estrelas original, e nenhum dos
protagonistas aqui deu as caras em outros episódios da saga, seu destino
trágico fica evidente. O que importa, entretanto, é a jornada. E
Rogue One acerta em todos os pontos para fazer com que ela seja memorável.
3. OS ÚLTIMOS JEDI(
Rian Johnson, 2017)
Rian Johnson entendeu exatamente o que é
Star Wars
quando entrou no jogo, desafiou todas as expectativas e, pela primeira
vem em anos, fez com que a série voltasse a ser empolgante. E fez isso
seguindo uma regra simples: nada de se prender ao passado, o negócio é
olhar para o futuro. É assim que encontramos Luke Skywalker, em exílio
após cometer um erro que colocou em risco toda uma nova geração de
cavaleiros Jedi. Ao ser procurado por Rey, ele é obrigado a encarar seu
próprio fracasso e fazer o sacrifício supremo para garantir a
sobrevivência da Resistência – e de sua irmã, Leia. Ao mesmo tempo,
Os Últimos Jedi
desenvolve melhor a personalidade de Poe (um rebelde que não gosta de
seguir regras e tem uma dura lição sobre sua importância) e Finn (que
por fim encara sua responsabilidade no conflito). Ao mesmo
tempo, desenvolve a personalidade de Kylo Ren (o duelo ao lado de Rey
contra a guarda do líder Snoke é coisa linda, em um filme visualmente
acachapante!) e se concentra nos pequenos momentos, com Yoda ("O maior
dos mestres, o fracasso é.") e com Leia ("A esperança é como o Sol. Se
você só acreditar quando ver, você nunca vai sobreviver à noite."). E
espero que não tenha sido a última vez que vimos DJ (Benicio Del Toro), o
anti-Han Solo, que resume toda a luta em uma frase: "às vezes vocês os
explodem. Às vezes eles os explodem. São só negócios". O maior legado de
Os Últimos Jedi, porém, está no garoto maltrapilho que, na
última cena, mostra sua conexão com a Força: ela pode estar em todo
mundo. Essa é a beleza universal de
Star Wars.
2. GUERRA NAS ESTRELAS(
George Lucas, 1977)
O marco zero, o filme que começou tudo. Uma mistureba de
Flash Gordon com os filmes Akira Kurosawa com
O Senhor dos Anéis
em uma galáxia muito, muito distante. George Lucas refinou sua história
por anos e juntou um time de notáveis para executá-la. Ralph McQuarrie,
que fez as primeiras artes conceituais. Os sonhadores reunidos para
criar do zero a Industrial Light & Magic e ultrapassar os limites do
que poderia ser criado no cinema. O produtor Gary Kurtz, que manteve o
caos coeso nos bastidores. John Williams e sua música imortal. Tudo
colocado a serviço de uma aventura acelerada, em que cada cena informava
a próxima, mantendo a plateia na beira da poltrona, absolutamente
maravilhada com o novo mundo que se abria.
Guerra nas Estrelas
está longe de não ter defeitos, mas suas falhas apenas humanizam o
espetáculo, coroado com toda uma geração que saiu do cinema disposta a
criar seus próprios sonhos. Um dos filmes mais importantes da história,
um dos fenômenos mais espetaculares da cultura pop. Em cem anos, pode
apostar, alguém ainda estará falando sobre a aventura espacial que mudou
tudo – provavelmente, depois de assistir ao filme com um implante
cerebral comprado na farmácia, ainda de queixo caído com aquele momento
perdido no tempo.
1. O IMPÉRIO CONTRA-ATACA(
Irvin Kershner, 1980)
Porque
O Império Contra-Ataca é o melhor
Star Wars de todos? Eu arrisco que seja por não entregar absolutamente nada que os fãs esperavam. Depois que
Guerra nas Estrelas estabeleceu o universo de George Lucas,
Império
podia nadar de braçada em mais uma aventura heroica e triunfante. Mas
os roteiristas Lawrence Kasdan e a incrível Leigh Brackett miraram no
oposto do "fácil e seguro". Ao final da aventura, os heróis estão em seu
pior momento. Luke Skywalker perdeu a grande batalha com Darth Vader.
Han Solo fora capturado, congelado e retirado de cena pelo caçador de
recompensas Boba Fett. A Aliança Rebelde sofrera uma derrota devastadora
no planeta gelado Hoth. Ainda assim, o diretor Irvin Kershner encontrou
espaço para ampliar o escopo e lapidar não só o filme como cinema (
Império ainda é o mais bonito de todos os
Star Wars),
mas também a história central, uma tragédia de pais e filhos, de
guerreiros monásticos que defendiam a galáxia extintos e exilados, de
lealdade e traição, de amor e guerra. Ao definir os jogadores no
tabuleiro cósmico de
Star Wars,
O Império Contra-Ataca
aumentou os riscos e dobrou as apostas, deixando os fãs, que haviam
mergulhado neste mundo há apenas três anos, sem a menor ideia do que
estaria por vir. É na adversidade que os verdadeiros heróis se
sobressaem. E foi no "filme do meio" da trilogia original que a saga
finalmente encontrou sua voz e deixou de ser fenômeno para se
estabelecer como cinema de verdade.