Denúncia contra grupo que atacou Porta dos Fundos não teve resposta

O humorista Gregório Duvivier vive um Jesus Cristo gay no filme  - Reprodução 


Alvo no ano passado de uma ação do mesmo grupo integralista que atacou a sede do grupo Porta dos Fundos na véspera de Natal, a Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) aguarda há um ano uma resposta da Polícia Civil e do MP (Ministério Público) do Rio.
Em dezembro do ano passado, um grupo de ao menos 11 homens identificados como integralistas invadiram o campus da universidade, na Urca, zona sul do Rio, e roubaram bandeiras antifascistas que estavam expostas no local. Dias depois, divulgaram um vídeo nas redes sociais queimando as bandeiras, que tinham as inscrições "Direito antifascista" e "Ciência Política antifascista".
Os vídeos divulgados nos dois casos são semelhantes: homens encapuzados posam em uma sala adornada por bandeiras do movimento integralista e do império, lendo um pronunciamento de teor nacionalista e de extrema-direita. A voz do homem que lê o comunicado é distorcida para evitar a identificação.
Na ocasião, a reitoria da Unirio comunicou o fato às autoridades competentes, mas até hoje não recebeu nenhuma resposta sobra o resultado das investigações.
"Após o roubo das bandeiras, a Unirio notificou o Ministério Público e as Polícias Civil e Militar, mas não recebeu retorno. Não houve procedimento interno, por se tratar de ação externa e criminosa, sem relação com questões administrativas", afirmou a universidade.
Responsável por ações em áreas de propriedade da União, como campus universitários, o MPF (Ministério Público Federal) afirma ter aberto uma notícia de fato —procedimento investigatório de caráter preliminar— para apurar a denúncia. Porém, houve declínio de competência —quando a autoridade entende que o caso é atribuição de outra jurisdição—- para o MP do Rio.
O MP do Rio foi procurado durante toda a sexta-feira para informar que providências tomou em relação ao caso, mas não respondeu até o momento. A Polícia Civil também não informou qual foi o resultado das investigações. Ontem, o delegado Fábio Barucke, subsecretário Operacional da Polícia Civil, afirmou que o caso foi alvo de ação pela Polícia Civil, mas não deu detalhes sobre o andamento.
"Esse grupo já tinha praticado um ato que já tinha sido apurado", afirmou Barucke. Ao ser questionado se o ato era o ataque à UniRio, ele confirmou: "Isso".

Polícia Civil descarta terrorismo

Após receber o ator João Vicente e o advogado do Porta dos Fundos ontem, o secretário de Polícia Civil, Marcus Vinícius Braga, afirmou  que a corporação não trabalha com a hipótese de terrorismo para o ataque contra a sede do grupo, no Humaitá, zona sul do Rio.
"Terrorismo não é hipótese investigada", disse.
Segundo a Polícia Civil, o caso foi tipificado inicialmente como os crimes de explosão e tentativa de homicídio, já que houve risco real contra a vida do vigilante que estava no prédio no momento.
O ataque ocorreu na sede do Porta dos Fundos, no Humaitá, zona sul do Rio, na madrugada do dia 24. De acordo com a Polícia Civil, ao menos quatro homens participaram da ação, em que foram lançados coquetéis molotov contra o prédio. As chamas foram contidas por um funcionário do grupo.
Os homens que realizaram o ataque chegaram ao local em um veículo SUV e em uma motocicleta. A 10ª DP (Botafogo), que comanda as investigações, trabalha agora para identificar a placa dos veículos.

Integralistas

Um grupo integralista chamado Comando de Insurgência Popular Nacionalista da Família Integralista Brasileira reivindicou a autoria do ataque. Eles divulgaram imagens de três homens encapuzados lançando os artefatos contra a fachada do imóvel. Segundo os militantes de extrema-direita, a ação é uma retaliação ao filme "A Primeira Tentação de Cristo", que estreou neste mês na plataforma de streaming Netflix.
A Frente Integralista Brasileira (FIB), principal movimento integralista atualmente em atividade no país, negou o ataque em nota e afirmou desconhecer o grupo que se declarou autor do atentado. O Integralismo é um movimento de extrema-direita, conservador e tradicionalista católico criado no Brasil em 1932 pelo jornalista e escritor Plínio Salgado.
Na semana passada, o Tribunal de Justiça do Rio indeferiu um pedido de retirada da obra do ar, feito pela Associação Centro Dom Bosco de Fé, entidade conservadora católica. Na obra, Jesus, vivido pelo comediante Gregório Duvivier, é retratado como um homem gay. A sátira provocou reações de políticos, ativistas e movimentos conservadores e ligados a igrejas.