A floresta amazônica segue sofrendo com o aumento do desmatamento. Dessa
vez, o problema foi reconhecido pelo governo federal, considerando como
verdadeiros os dados colhidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe), que monitora a integridade da cobertura vegetal da
região por meio de imagens de satélite. No início de julho, o mesmo
governo duvidou da metodologia do órgão. A mudança de posicionamento
ocorreu diante das queixas de ambientalistas e da comunidade
internacional, mas ainda é pouco.
Entre 1º de agosto de 2018 e 31 de julho de 2019, foi registrado um
aumento de 29,5% na devastação, em relação ao mesmo período anterior. As
causas são as queimadas ilegais, garimpos, extração de madeira e
abertura de pastagens. Isso fez com que a floresta perdesse o
equivalente a 10 mil quilômetros quadrados, cerca de cinco vezes a área
da cidade de São Paulo. É o maior percentual registrado desde 1998,
quando o índice foi de 31%. Não se registrava uma área afetada tão
grande desde 2008, com quase 11 mil quilômetros quadrados devastados.Os estados que mais derrubaram árvores foram Pará e Mato Grosso, somando 56%.
Quem conduziu a apresentação dos dados, na segunda-feira 18, foi o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmando que as causas estão nos “motivos já conhecidos” que ocorrem “há anos”.
A declaração foi considerada “relativista”. “Há uma tendência de alta
desde 2012, só que a variação média era de 10,2%. Agora foi quase o
triplo”, disse Carlos Rittl, do Observatório do Clima. Salles também fez
de conta que o desmonte dos órgãos ambientais não possui relação direta
com o problema.
Questão cultural
Já as declarações do presidente Jair Bolsonaro foram tentativas de tergiversação. Indagado na terça-feira 19, ele disse que quem cuidava da questão toda era o ministro do Meio Ambiente. No dia seguinte, afirmou que o problema era “cultural”. Em termos antropológicos e históricos, Bolsonaro pode até estar certo. Só que ele ocupa o cargo mais importante do País, portanto, a solução passaria por suas mãos. Quando seu ministro diz que é preciso buscar uma “uma alternativa econômica sustentável”, mas não aponta nenhum plano, deixa claro que segue ignorando todas as alternativas estudadas e desenvolvidas por instituições de pesquisa brasileiras. É uma irresponsabilidade. Enquanto isso, é dado como certo que em 2020 o estrago será ainda maior.