O lançamento de Coringa marca uma nova era para adaptações de quadrinhos da editora nos cinemas, e também no gênero em geral. O filme de Todd Phillips não está inserido em nenhuma cronologia ou franquia, existindo em um universo alternativo (elseworld) que está ali apenas para contar uma história de forma autoral e sem qualquer amarra com filmes que o precedem. O próprio Phillips afirmou que “não podem competir com a Marvel, então vamos fazer algo que eles não podem”. E esse é o segredo: apostar completamente no cinema de autor, movido por ideias, e não universos compartilhados.
A DC já vinha mostrando sinais de abandonar o conceito do universo compartilhado, já que Mulher-Maravilha 1984 e o próprio The Batman com Robert Pattinson sugerem narrativas mais livres e isoladas, e o novo Cavaleiro das Trevas não terá relação alguma com a versão de Ben Affleck que vimos no chamado DCEU. Coringa chega para explodir completamente essa noção, confiando na capacidade do público em aceitar diferentes versões do mesmo personagem e universo aparecendo simultaneamente nos cinemas. Os quadrinhos fazem isso por anos com as graphic novels, e o tal do DC Black que Phillips pretende inaugurar servirá justamente como isso, uma plataforma para histórias diferentes e com mais liberdade.
Popularidade x prestígio
Talvez seja impossível bater a Marvel Studios nas bilheterias, já que a Disney sempre investe em filmes para toda a família e que se vendem na escala de suas produções, que ficam cada vez maiores a cada nova aventura dos Vingadores. Mas existe uma questão mais profunda que sempre é iniciada quando um novo filme do MCU é lançado: esses filmes serão duradouros na História do Cinema? Isto é, de uma forma que transcende o impacto no coração dos fãs e o triunfo mercadológico?Discuti aqui no site algumas vezes sobre como o Universo Cinematográfico da Marvel é um dos maiores sufocos para autores. O produtor Kevin Feige é a verdadeira voz por trás da franquia, que se estende por múltiplos filmes, e como esses filmes exigem uma consistência narrativa, todos eles acabam sendo iguais. Todos os diretores que Feige traz para a franquia geralmente vêm da TV ou do mercado independente, não sendo cineastas de visão artística forte (James Gunn e Ryan Coogler são as exceções), mas sim meros “funcionários” que executam bem seu trabalho, já que os filmes do MCU são todos assistíveis. Mas raramente transcendem para se tornarem grandes obras que serão lembradas por seus méritos cinematográficos, e não apenas de efeitos visuais cada vez mais genéricos.
Ainda não sabemos como a História irá se lembrar de Coringa, mas as intenções de Todd Phillips são bem evidentes em querer fazer algo a mais – e o filme desponta como um dos jogadores da temporada de prêmios, já tendo ganhando o prestigioso Leão de Ouro no Festival de Veneza. Se a DC realmente for apostar em vozes autorais e distintas, então ela superará a Marvel, não no dinheiro, mas na relevância artística.
Isso, meus amigos, não tem preço.