Um homem foi enviado ao IML (Instituto Médico Legal) ontem (2) com quatro tiros no corpo: dois no pescoço, um no peito e outro no abdômen. Ele foi morto em Osasco, na Grande São Paulo, durante a manhã após supostamente ter atirado em policiais numa região de mata. Ele não foi identificado pela polícia e era negro. Foi morto durante a fuga após uma tentativa frustrada de roubar uma moto próximo dali.
Segundo a Polícia Civil, por volta das 8h, no km 15 da rodovia Castelo Branco, dois criminosos, em uma Honda Hornet, tentaram roubar uma outra moto, modelo Suzuki. Acionados por testemunhas do crime, PMs que estavam a 3 km dali foram ao local. Lá, teriam sido recebidos a tiros e revidaram. Um dos tiros atingiu um caminhão. Ninguém ficou ferido na ocorrência e a moto foi recuperada.
Um dos criminosos fugiu a pé, por um viaduto. O outro roubou um Chevrolet Montana e também fugiu, de acordo com a Polícia Civil. Enquanto os PMs envolvidos na troca de tiros e a vítima do roubo da moto estavam no 10º DP (Distrito Policial) de Osasco, no Jardim Helena Maria, para produzir o registro da ocorrência, chegou ao local o tenente Rafael Enrique Cano Telhada, 32, lotado no COE (Comando e Operações Especiais) e filho do deputado estadual coronel Paulo Telhada (PP-SP).
O tenente Telhada afirmou na delegacia que testemunhas da tentativa de roubo afirmaram à sua equipe policial que um homem estava roubando carros nas proximidades e se escondendo em uma região de mata perto da rodovia Castelo Branco. Telhada e outros dois PMs, o sargento Rodrigo Bolini, 41, e o soldado Rogério Felix da Silva, 38, foram ao local.
Chegando lá, segundo a versão policial apresentada na delegacia, os policiais do COE foram recebidos a tiros, revidaram e atingiram o suspeito quatro vezes: duas no pescoço, uma no peito e outra no abdômen. O suspeito chegou a ser socorrido e levado ao hospital regional de Osasco, mas não resistiu aos ferimentos. O outro suspeito não foi localizado.
Os policiais mexeram na cena do confronto ao socorrer o suspeito baleado. Eles levaram para a delegacia uma arma e vestimentas, que seriam do rapaz. Essas roupas teriam sido identificadas pelos primeiros policiais militares envolvidos na ocorrência, que teriam afirmado que eram semelhantes às usadas pelos criminosos.
Horas depois da ocorrência, o tenente Telhada comemorou a morte nas redes sociais. "O facínora tombou baleado e, socorrido, evoluiu a óbito. Graças ao bom Deus, todos os guerreiros do COE estão bem. A caveira sorriu mais uma vez". Em stories do Instagram, ele complementou: "mais um combate, mais um inimigo tombado, vitória". Seus seguidores, em comentários, elogiaram a ação.
A reportagem não localizou o tenente Telhada, mas pediu entrevista com o policial, através da assessoria de imprensa da SSP (Secretaria da Segurança Pública), que não retornou o pedido até esta publicação.
Segundo a Polícia Civil, por volta das 8h, no km 15 da rodovia Castelo Branco, dois criminosos, em uma Honda Hornet, tentaram roubar uma outra moto, modelo Suzuki. Acionados por testemunhas do crime, PMs que estavam a 3 km dali foram ao local. Lá, teriam sido recebidos a tiros e revidaram. Um dos tiros atingiu um caminhão. Ninguém ficou ferido na ocorrência e a moto foi recuperada.
Um dos criminosos fugiu a pé, por um viaduto. O outro roubou um Chevrolet Montana e também fugiu, de acordo com a Polícia Civil. Enquanto os PMs envolvidos na troca de tiros e a vítima do roubo da moto estavam no 10º DP (Distrito Policial) de Osasco, no Jardim Helena Maria, para produzir o registro da ocorrência, chegou ao local o tenente Rafael Enrique Cano Telhada, 32, lotado no COE (Comando e Operações Especiais) e filho do deputado estadual coronel Paulo Telhada (PP-SP).
O tenente Telhada afirmou na delegacia que testemunhas da tentativa de roubo afirmaram à sua equipe policial que um homem estava roubando carros nas proximidades e se escondendo em uma região de mata perto da rodovia Castelo Branco. Telhada e outros dois PMs, o sargento Rodrigo Bolini, 41, e o soldado Rogério Felix da Silva, 38, foram ao local.
Chegando lá, segundo a versão policial apresentada na delegacia, os policiais do COE foram recebidos a tiros, revidaram e atingiram o suspeito quatro vezes: duas no pescoço, uma no peito e outra no abdômen. O suspeito chegou a ser socorrido e levado ao hospital regional de Osasco, mas não resistiu aos ferimentos. O outro suspeito não foi localizado.
Os policiais mexeram na cena do confronto ao socorrer o suspeito baleado. Eles levaram para a delegacia uma arma e vestimentas, que seriam do rapaz. Essas roupas teriam sido identificadas pelos primeiros policiais militares envolvidos na ocorrência, que teriam afirmado que eram semelhantes às usadas pelos criminosos.
Horas depois da ocorrência, o tenente Telhada comemorou a morte nas redes sociais. "O facínora tombou baleado e, socorrido, evoluiu a óbito. Graças ao bom Deus, todos os guerreiros do COE estão bem. A caveira sorriu mais uma vez". Em stories do Instagram, ele complementou: "mais um combate, mais um inimigo tombado, vitória". Seus seguidores, em comentários, elogiaram a ação.
A reportagem não localizou o tenente Telhada, mas pediu entrevista com o policial, através da assessoria de imprensa da SSP (Secretaria da Segurança Pública), que não retornou o pedido até esta publicação.
Perícia não foi ao local
A Polícia Civil não chegou sequer a pedir perícia no local. Segundo o registro da ocorrência, assinado pelo delegado Vinícius Brandão de Rezende, "em virtude de o local ser de difícil acesso, bem como de o corpo já ter sido removido do local, não havendo, portanto, campo para perícia, deixou a Autoridade Policial de requisitar perícia local".
O UOL questionou a Secretaria da Segurança Pública sobre o porquê de o corpo ter sido retirado e por quem.
Em nota, a PM disse que abrirá um IPM (inquérito policial militar) para "apurar a ocorrência mencionada pela reportagem". A PM disse ainda que, "em relação às opiniões pessoais do tenente, elas não refletem a posição da instituição e serão apuradas".
Nem a PM e nem a SSP responderam, no entanto, os questionamento feitos pela reportagem sobre a retirada do corpo da vítima do local da morte.
A decisão pode afetar o resultado da investigação. Pela perícia, poderia ser descoberto quantos tiros foram efetuados na cena do crime, por exemplo --o que poderia comprovar que os policiais foram recebidos a tiros ou divergir da versão dos PMs, caso houvesse indícios de apenas quatro tiros disparados.
De acordo com a desembargadora Ivana David, do Tribunal de Justiça de São Paulo, houve indícios de, ao menos, dois erros: a alteração da cena do crime feita pelos PMs e a falta de trabalho de perícia no local.
"Existe resolução da Secretaria da Segurança Pública que proíbe que o corpo seja retirado do local antes da perícia. O Código de Processo Penal obriga a perícia. O delegado não tem a disponibilidade de abrir mão da norma técnica sobre pena de prejudicar a prova", afirmou.
Ao retirar a perícia, o delegado prejudicou muito o processo. A perícia não é só de corpo. É de local, distância, cápsulas, pneu da viatura etc. Isso fragilizou a prova.
Ivana David, desembargadora do TJ-SP
"Se era local de difícil acesso, como tiraram o corpo e as roupas do indivíduo? Isso pode ser considerado até crime de prevaricação. Vai ter que explicar por que não respondeu ao Código de Processo Penal", complementou a magistrada.
De acordo com o Método Giraldi, que é público e orienta como os policiais militares de São Paulo devem agir em confrontos, os tiros devem ser preventivos, para contenção de suspeito. A orientação é para atirar de forma gradual, se preciso.
Política de apoio ao policial que mata
Oficialmente, a Polícia Militar considera como negativas ocorrências que terminam em morte sejam de suspeitos ou de policiais. A SSP (Secretaria da Segurança Pública), questionada se a comemoração contraria os princípios da corporação, não se manifestou até a publicação desta reportagem.
O governador João Doria (PSDB) foi criticado por oposicionistas, durante a campanha ao governo, do ano passado, depois de afirmar que o policial deve "atirar para matar" e de dizer, ao lado do deputado Coronel Paulo Telhada (PP), que os policiais que matarem devem ter, pagos pelo estado, "os melhores advogados" disponíveis. À época, o comandante-geral da PM disse que a orientação é de proteger vidas.
A Polícia Civil não chegou sequer a pedir perícia no local. Segundo o registro da ocorrência, assinado pelo delegado Vinícius Brandão de Rezende, "em virtude de o local ser de difícil acesso, bem como de o corpo já ter sido removido do local, não havendo, portanto, campo para perícia, deixou a Autoridade Policial de requisitar perícia local".
O UOL questionou a Secretaria da Segurança Pública sobre o porquê de o corpo ter sido retirado e por quem.
Em nota, a PM disse que abrirá um IPM (inquérito policial militar) para "apurar a ocorrência mencionada pela reportagem". A PM disse ainda que, "em relação às opiniões pessoais do tenente, elas não refletem a posição da instituição e serão apuradas".
Nem a PM e nem a SSP responderam, no entanto, os questionamento feitos pela reportagem sobre a retirada do corpo da vítima do local da morte.
A decisão pode afetar o resultado da investigação. Pela perícia, poderia ser descoberto quantos tiros foram efetuados na cena do crime, por exemplo --o que poderia comprovar que os policiais foram recebidos a tiros ou divergir da versão dos PMs, caso houvesse indícios de apenas quatro tiros disparados.
De acordo com a desembargadora Ivana David, do Tribunal de Justiça de São Paulo, houve indícios de, ao menos, dois erros: a alteração da cena do crime feita pelos PMs e a falta de trabalho de perícia no local.
"Existe resolução da Secretaria da Segurança Pública que proíbe que o corpo seja retirado do local antes da perícia. O Código de Processo Penal obriga a perícia. O delegado não tem a disponibilidade de abrir mão da norma técnica sobre pena de prejudicar a prova", afirmou.
Ao retirar a perícia, o delegado prejudicou muito o processo. A perícia não é só de corpo. É de local, distância, cápsulas, pneu da viatura etc. Isso fragilizou a prova.
Ivana David, desembargadora do TJ-SP
"Se era local de difícil acesso, como tiraram o corpo e as roupas do indivíduo? Isso pode ser considerado até crime de prevaricação. Vai ter que explicar por que não respondeu ao Código de Processo Penal", complementou a magistrada.
De acordo com o Método Giraldi, que é público e orienta como os policiais militares de São Paulo devem agir em confrontos, os tiros devem ser preventivos, para contenção de suspeito. A orientação é para atirar de forma gradual, se preciso.
Política de apoio ao policial que mata
Oficialmente, a Polícia Militar considera como negativas ocorrências que terminam em morte sejam de suspeitos ou de policiais. A SSP (Secretaria da Segurança Pública), questionada se a comemoração contraria os princípios da corporação, não se manifestou até a publicação desta reportagem.
O governador João Doria (PSDB) foi criticado por oposicionistas, durante a campanha ao governo, do ano passado, depois de afirmar que o policial deve "atirar para matar" e de dizer, ao lado do deputado Coronel Paulo Telhada (PP), que os policiais que matarem devem ter, pagos pelo estado, "os melhores advogados" disponíveis. À época, o comandante-geral da PM disse que a orientação é de proteger vidas.
Para o professor de gestão pública da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Rafael Alcadipani, "qualquer ação policial que resulta em morte jamais deve ser celebrada. Porque toda vez que há confronto o policial também está em risco".
A ação policial perfeita, e que deve ser comemorada, é aquela em que não há confronto e o suspeito é preso.
Rafael Alcadipani, professor de gestão pública da FGV
De acordo com o pesquisador, atualmente há subculturas de policiais que utilizam redes sociais para construir imagens de heróis e, depois disso, tentar ocupar cargos políticos.
"A celebração do confronto é utilizada como estratégia de marketing político. Usam-se os símbolos da PM para criar um futuro candidato e fortalecer o nome de quem já é político", afirmou.
Em 2018, a PM de São Paulo reduziu em 9,5 o número de pessoas mortas por policiais. No ano anterior, as polícias de São Paulo bateram recorde de letalidade. Em contraponto, 60 policiais foram mortos em serviço e durante a folga tanto em 2017 quanto em 2018.
A ação policial perfeita, e que deve ser comemorada, é aquela em que não há confronto e o suspeito é preso.
Rafael Alcadipani, professor de gestão pública da FGV
De acordo com o pesquisador, atualmente há subculturas de policiais que utilizam redes sociais para construir imagens de heróis e, depois disso, tentar ocupar cargos políticos.
"A celebração do confronto é utilizada como estratégia de marketing político. Usam-se os símbolos da PM para criar um futuro candidato e fortalecer o nome de quem já é político", afirmou.
Em 2018, a PM de São Paulo reduziu em 9,5 o número de pessoas mortas por policiais. No ano anterior, as polícias de São Paulo bateram recorde de letalidade. Em contraponto, 60 policiais foram mortos em serviço e durante a folga tanto em 2017 quanto em 2018.