Entenda o que é verticalização e como ela afeta juros e preços

Sorbetto/Getty Images 
A concentração bancária no Brasil, com apenas cinco bancos dominando o mercado, foi um dos fatores que ajudaram as instituições financeiras a controlar diversos segmentos. Os bancos não ficaram só nas atividades básicas e avançaram para setores como meios de pagamentos, seguros e serviços de corretagem.

Isso é chamado de verticalização: é o domínio de um grande conglomerado em diferentes setores de uma mesma atividade econômica. No caso, o banco é dono de vários produtos e serviços da mesma cadeia de negócios.

Capítulo 1 - O que dizem os bancos -e suas ideias polêmicas
- Bancos fazem livro para baixar juros, mas especialistas criticam
- O que é o spread bancário e o que ele tem a ver com os juros?
- Opinião: De quem é a responsabilidade pelos juros altos?

Capítulo 2 - O que se deve fazer para reduzir juros mesmo
- Para juros caírem de verdade, seria preciso haver concorrência e educação
- Vilão número 1 da inadimplência no Brasil são os juros

Capítulo 3 - A concentração bancária
- Sem concorrência, de cada R$ 10 depositados, R$ 8,50 ficam em só 5 bancos
- Entenda o que é verticalização e como ela afeta juros e preços
- A desverticalização está vindo aí

Próximos capítulos:
Capítulo 4 - Governo Bolsonaro e os bancos
Capítulo 5 - O efeito no bolso das pessoas

Bancos são donos de bandeiras, credenciadoras e cartões

Alguns bancos são donos de bandeiras de cartão, de credenciadoras (máquinas de cartão) e ainda são emissores dos cartões. As instituições financeiras argumentam que esse modelo reduz custos.

Entretanto, analistas alertam que a verticalização pode trazer prejuízos e desestimular a competição porque as instituições financeiras passam a ter posição dominante no mercado. Com isso, praticam preços e elevadas tarifas de juros, que são repassadas para o valor de produtos e serviços.

O advogado Ruy Coutinho, ex-presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), declarou que a verticalização está presente em diversos setores da economia global. Ele citou como exemplo Netflix e empresas de telefonia.

"No setor de entretenimento, empresas como Netflix produzem o conteúdo e fazem a distribuição. No de telecomunicações, as empresas geram, distribuem e vendem serviços de internet e telefonia. Em transportes, uma mesma empresa constrói a ferrovia, faz a manutenção, garante a segurança e opera o sistema", disse. 

Cade deve acompanhar concentração para coibir abusos

Coutinho declarou que o Cade deve acompanhar esse processo de verticalização, para evitar que práticas anticompetitivas sejam adotadas pelos participantes do mercado. No caso dos meios de pagamento, ele afirmou que o órgão de defesa da concorrência tem acompanhado o tema.

"Alguns acordos já foram celebrados pelo Cade com participantes do mercado, e uma investigação mais ampla está em curso", disse.

Relatório da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal publicado em dezembro passado recomendou ao Cade que seja proibido que um mesmo grupo financeiro controle bandeira, credenciadora e emissão de cartões.

Após a recomendação, o Cade abriu uma investigação para apurar eventuais práticas anticompetitivas no sistema financeiro e no mercado de meios de pagamentos.