Há coisas que aprendemos na escola e damos como certas para o resto de nossas vidas. Por exemplo, a ordem dos planetas. Quem tem boa memória deve lembrar: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Plutão, que era considerado um planeta, foi "rebaixado".
Na mesma aula, também aprendemos que planeta está mais próximo da Terra. Mas não é tão simples assim.
Marte ou Vênus?
Independentemente do que você aprendeu na infância, não há uma única resposta para a pergunta, porque as distâncias entre os planetas estão mudando.
De fato, embora Marte e Vênus sejam sempre representados como vizinhos da Terra - um de cada lado - em determinados momentos nenhum deles é o mais próximo do nosso planeta.
Isso foi revelado recentemente pelo programa de rádio More or Less, da BBC Radio 4, dedicado a analisar números e estatísticas da vida cotidiana. Foi um ouvinte do programa que escreveu pedindo esclarecimentos, após assistir a um programa de televisão da BBC, que dizia que Marte era nosso vizinho mais próximo.
"Certamente é um erro", disse Graham Sherman, convencido de que a resposta correta era Vênus.
Distância dos planetas
A verdade é que cada planeta tem um ritmo diferente de órbita - a jornada dos planetas ao redor do Sol. Isso significa que as distâncias entre eles estão mudando.
Para calcular que planeta realmente passa mais tempo perto da Terra, você precisa fazer uma média.
Foi exatamente isso que o programa More or Less fez, com a ajuda do especialista em estatísticas Oliver Hawkins.
Hawkins conseguiu estimar que planeta estava mais próximo da Terra a cada dia dos últimos 50 anos.
Assim ele conseguiu calcular qual foi o planeta que passou, em média, a maior parte do tempo como nosso vizinho mais próximo.
A resposta vai surpreender você...
Foi Mercúrio.
"Como isso é possível?", você deve se perguntar.
Para explicar, a BBC procurou David A. Rothery, professor de geociências planetárias da Open University, no Reino Unido.
Questão de tempo
"A ordem dos planetas, a partir do Sol, é: Mercúrio, Vênus e Terra, mas quando Vênus está do outro lado do Sol, fica muito longe de nós", explica Rothery.
A órbita de Vênus faz deste planeta o que pode chegar mais perto do nosso, seguido por Marte na segunda posição. Às vezes, o planeta vermelho fica muito próximo da Terra, enquanto a distância de Vênus é enorme.
"E, embora Marte seja potencialmente o segundo planeta mais próximo do nosso planeta, o que passa mais tempo perto da Terra é Mercúrio", confirmou.
As estatísticas provam isso claramente: no último meio século, o menor planeta - e mais próximo do Sol - foi o mais próximo da Terra 46 do tempo.
Vênus aparece em segundo lugar: ele passou 36% do tempo como nosso vizinho mais próximo.
Por outro lado, o planeta vermelho, que muitos supõem ser o mais próximo da Terra, estava nesta posição apenas 18% do tempo.
Por que a confusão?
Talvez a confusão sobre a proximidade de Marte tenha a ver com o enorme interesse que este planeta despertou nos últimos anos entre as agências espaciais, especialmente a Nasa.
Mas por que se fala tanto em fazer viagens a Marte se Vênus está, de fato, a uma distância menor e Mercúrio acaba passando mais tempo ao nosso lado?
A razão, segundo Rothery, não tem nada a ver com as distâncias, mas com as características de cada planeta.
"Marte é um lugar que poderia abrigar vida e sua superfície não é muito quente. Uma nave espacial poderia operar lá por um longo tempo", disse.
"Por outro lado, se você pousar em Vênus, é muito quente, porque a atmosfera densa retém o calor".
Mercúrio, o próximo desafio
Quanto a Mercúrio, é mais complicado. E não é porque é o mais quente (na verdade, Vênus é mais quente, apesar de estar mais longe do Sol).
"É o planeta mais difícil de alcançar porque quando você vai para Mercúrio você se aproxima do Sol e vai ganhando velocidade (...) o que torna mais complicado entrar na sua órbita", diz o especialista.
Apenas duas missões espaciais conseguiram isso até agora: a Mariner 10, em 1974 e 1975, e a sonda Messenger, em 2004, ambas da Nasa - o que torna Mercúrio o planeta menos explorado do nosso Sistema Solar.
Mas Rothery faz parte de um grupo de especialistas que busca uma terceira viagem exploratória a Mercúrio.
Em outubro passado, as agências espaciais da Europa e do Japão lançaram em conjunto a terceira missão da história para esse planeta: a BepiColombo, prevista para chegar a Mercúrio em 2025.
Estima-se que a sonda levará sete anos para entrar na órbita de Mercúrio, devido aos problemas de aceleração mencionados pelo especialista.
Talvez possamos finalmente aprender mais sobre nosso vizinho enigmático.