Cerveja escura, sabonete rosa, mar poluído: por que espuma é sempre branca?

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O que cerveja, sabão, xampu e ondas do mar têm em comum? A espuma é uma das respostas possíveis.

E independente da substância, normalmente o conjunto das minúsculas bolhas é esbranquiçado - é esse, aliás, o conceito de espuma segundo o dicionário.

Na cerveja escura, no mar poluído, no sabonete cor-de-rosa: a aparência é sempre clara. Para entender a razão, é preciso recorrer à ciência e suas definições:

A espuma é a dispersão de um gás num meio líquido ou sólido

Frank Herbert Quina, professor de Química da USP (Universidade de São Paulo).

Num meio sólido? Antes de prosseguir, um parêntesis. Graças à ação do fermento em alimentos como bolos e pães, há o desprendimento de gases dentro da massa, fazendo com que ela se expanda. É a ação da espuma com efeitos práticos em meios sólidos.

Mas voltemos à definição de espuma. Ela é formada por um conjunto de bolhas que medem apenas 1.500 nanômetros, o equivalente à espessura de cerca de 40 fios de cabelo.

Essa configuração propicia alguns processos físicos ligados à luz.

"Todas as cores são, na verdade, raios de luz formados por ondas", explica o professor Quina.

Mas o olho humano não capta todos os comprimentos de onda. No arco-íris, por exemplo, "só" enxergamos do azul (onda de 400 nanômetros de comprimento) ao vermelho (700 nanômetros), embora também exista o ultravioleta abaixo dos 400 nanômetros e o infravermelho acima dos 700 nanômetros.

Nosso cérebro também interpreta a soma de todos os comprimentos de onda nesse intervalo, ou seja, de todas as cores, como branco. Por isso se costuma dizer que o branco é a soma de todas as cores. A ausência de cores é o preto.

Quando a luz atinge as bolhas da espuma, atravessa diferentes superfícies, sofrendo reflexões e refrações múltiplas vezes.

"Cada bolha funciona como um pequeno prisma, dividindo a luz branca que bate nela em reflexos de todas as cores do arco-íris", explica Márcio Basílio, coordenador do curso de bacharelado em Química Tecnológica do Cefet-MG (Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais).

Como a mistura de todas as cores resulta no branco, é assim que vemos a espuma, em um processo chamado de espalhamento da luz branca.
Por que às vezes a espuma tem outra cor?

A cor depende primeiramente da luz: se a espuma é iluminada pelo Sol, veremos a cor branca. Já em uma sala escura e sob uma lâmpada vermelha, ela vai parecer avermelhada.

Podemos ver mudança de cor ao manipular a substância também. "Isso se nota quando batemos clara de ovo para fazer chantilly: a brancura aumenta conforme diminui o tamanho das bolhas", exemplifica Quina.

O efeito inverso poder ser visto nas bolhas de sabão usadas em jogos infantis: repare que as menores parecem ter mais cores do que as maiores.

"Um conjunto de bolhas grandes reflete e refrata a luz menos do que um conjunto de bolhas pequenas. Isso ocorre porque, se o diâmetro das bolhas aumentam, a curvatura das superfícies diminui, e tem-se cada vez menos reflexões múltiplas", acrescenta o professor.

Para fotografar arco-íris nas bolhas de sabão, então, a dica é: procure as menores.

Por fim, é possível adicionar corantes para deixar o aspecto da espuma. Essa aplicação é usada principalmente em produtos comerciais, como brinquedos para bebês. "Basicamente busca-se um efeito visual para fazer a espuma mais bonita ou para mascarar uma cor menos interessante do produto", resume Quina.
Espuma é 'inútil', mas é adicionada para agradar consumidor

Outra curiosidade sobre as espumas: no geral, não tem propriedades especiais, nem indicam que limpam mais, no caso de detergentes.

Mas, como o consumidor se acostumou com elas, é comum os fabricantes de detergente, xampu e sabão acrescentarem componentes que geram espuma para agradar o consumidor.

Já na cerveja, ela não é eficaz para manter a temperatura gelada, como alguns acreditam.

"A entrada de calor pelo vidro do copo é muito maior. A espuma da cerveja tem uma função mais estética do que prática", diz Quina.