No mês passado, um "ataque" hacker a um robô experimental acendeu um alerta na comunidade tecnológica: talvez seja fácil demais hackear robôs.
A história parece um pouco sinistra: o robô humanoide Herb2, criado por pesquisadores da Universidade de Washington, saudou seus criadores com um "Hello from the hackers" ("Olá dos hackers"). Por sorte, não se tratavam de hackers mal-intencionados: eram só pesquisadores da Universidade de Brown.
A intenção dos hackers, que agiram com o consentimento dos pesquisadores de Washington, era mostrar a vulnerabilidade de robôs criados com o uso do sistema ROS (Robot Operating System), um conjunto de códigos abertos usados por diversos desenvolvedores de robôs no mundo.
O ataque foi inofensivo, mas o perigo ficou claro: universidades, empresas, indústrias e até pessoas comuns, que têm robôs domésticos, podem estar vulneráveis a ataques cibernéticos não só por meio de computadores convencionais e dispositivos móveis, mas também por seus aparelhos robóticos conectados à rede.
Segundo Thiago Marques, analista de segurança da Kaspersky Lab, a internet das coisas e o crescimento do uso de dados e de inteligência artificial em diversos âmbitos acabaram multiplicando as possibilidades de ataques hackers, antes restritas a poucos dispositivos.
No caso dos robôs domésticos, as invasões podem acontecer principalmente com aqueles que estão conectados à internet com mais frequência. Em abril deste ano, ficou demonstrada a vulnerabilidade da robô Alexa, assistente inteligente do Amazon Echo: pesquisadores da empresa de cibersegurança Checkmarx foram capazes de invadir o dispositivo para gravar o que ele ouvia.
Integridade física
Segundo Marques, os maiores problemas de invasões a robôs domésticos estariam relacionados à quebra da privacidade dos usuários. A gravidade das ameaças, porém, tende a aumentar à medida que a internet das coisas ganhe mais espaço em nossas casas.
Por enquanto, não faltam os alertas para as possíveis consequências sinistras de nossa crescente dependência dos robôs –como a invasão experimental do Alpha 2, da UBTech, que o transformou em um robozinho "assassino".
E se um pequeno robô já pode ficar se tornar um perigo para a integridade física das pessoas, imagine o estrago que robôs industriais também podem causar.
Os hackers também podem tentar afetar a linha de produção de uma fábrica, o que, em alguns casos, pode colocar em risco a própria segurança física dos funcionários.
Marques cita o exemplo de um experimento hacker que desviou a operação de um robô industrial em uma fração de milímetro, imperceptível ao olho humano. "Pode parecer pequeno, mas, se um robô pode ser reprogramado e ter seus movimentos alterados, um criminoso pode criar, com isso, situações catastróficas", afirma.
Ele lembra que "milhares fábricas ao redor do mundo empregam robôs que movem caixas, perfuram peças e realizam outras ações de acordo com rotinas programadas", e que, por isso, a cibersegurança deve ser tão prioritária quanto a segurança física e elétrica dos equipamentos.
Sequestro e segredos
Além do perigo físico, o hack de robôs pode significar para empresas a divulgação de informações confidenciais e de segredos industriais. Em alguns casos, as máquinas podem até ser sequestradas remotamente.
Um caso clássico, de acordo com Marques, é a cobrança de resgate pelo robô invadido.
"O cibercriminoso pede dinheiro pelo resgate de um robô, mas isso não significa que vai devolvê-lo, muito menos que não usará suas informações no futuro. O golpista pode continuar lucrando em cima das pessoas que já resgataram um robô", conta ele.
A boa notícia é que ainda há tempo de cuidar da segurança dessas máquinas antes e elas se popularizem.