Toda vez que deseja escapar de um assunto espinhoso ou quando não
consegue produzir uma resposta articulada, em geral em temas ligados à
economia ou à gestão do País, o presidenciável Jair Bolsonaro vale-se de
um subterfúgio: transfere a Paulo Guedes, seu principal assessor econômico, a tarefa de encontrar uma solução para o problema.
“Pergunta no Posto Ipiranga”, brinca o candidato do PSL, em
referência a Guedes, sócio da Bozano Investimentos e da faculdade Ibmec e
reiteradamente apresentado como futuro “superministro” da Economia em
caso de vitória do deputado federal nas eleições de outubro. O banqueiro
é apresentado como uma espécie de Deus ex-machina, a força motriz por
trás de um eventual governo do atual parlamentar. Não se trata apenas de
admitir limitações compreensíveis no trato de temas complexos. O
presidenciável busca com a estratégia angaria a simpatia do mercado
financeiro, que enxerga em Guedes o personagem capaz de tirar do papel
as reformas ultraliberais.Bolsonaro não perde nenhuma oportunidade para reafirmar a importância crucial de Guedes. Recentemente, apresentou a ideia de criar um “superministério” da Economia para acomodar o banqueiro, fruto da fusão das pastas da Fazenda e do Planejamento e com ingerência total sobre as estatais e o sistema de regulação econômica.
E o que diz o Posto Ipiranga, ou melhor, Paulo Guedes? Em entrevista à GloboNews, que tem entrevistado os assessores econômicos dos candidatos, o banqueiro descartou a possibilidade de acumular tanto poder. "Não existe 'posto Ipiranga', salvador da Pátria. Isso é uma construção coletiva", afirmou. "O economista vai propor coisas duras, o presidente vai dar uma amaciada e depois, quando ele for negociar com o Congresso, vão dar outra amaciada".
O resultado da tanta negociação? Um projeto diferente do que o economista propôs e do que o Congresso queria. "Como sempre aconteceu, é a história do Brasil."
Durante a entrevista, Guedes voltou a defender uma ampla privatização, inclusive da Petrobras, maior estatal brasileira. "A União tem que vender ativo. A Petrobras vende refinaria. E o governo pode vender a Petrobras, por que não?"