Fernanda Torres e Selton Mello falaram sobre a importância da conquista de Oscar de Melhor Filme Internacional pelo trabalho em "Ainda Estou Aqui"
durante coletiva realizada nesta segunda-feira (3). Junto dos atores, o
diretor Walter Salles revelou partes do discurso que tinha preparado,
mas que acabou não lendo durante a entrega da estatueta.
"[Começava] agradecendo o cinema brasileiro e o latino-americano. Sinto
muito orgulho, ainda mais depois de fazer 'Diários de Motocicleta'
[2004]. Eu começava por aí e perdi isso na largada também perdi outras
coisas. Eu terminava falando dos governos autoritários porque eles
surgem e depois somem no esgoto da história, terminava dizendo 'Viva a
democracia e ditadura nunca mais'. Estou feliz de poder dizer isso
hoje", diz.
Selton Mello descreve a convicção de que a produção
ganharia uma das três categorias indicadas. "Foi uma noite mágica e
muito bonita. Assisti com a Analu [filha de Eunice e Rubens] e o Chico
Paiva [neto], e eu estava confiante em ganhar Melhor Filme
Internacional. É um homem que foi levado de casa e assassinado pelo
estado. Eu dei vida a esse homem e trouxe ele para viver de novo. Tive
um insight em Veneza: 'Esse filme é o corpo do Rubens que nunca voltou'.
É uma honra ter feito o pai do Marcelo Rubens Paiva, que é meu amigo",
afirma.
O longa-metragem conta a história de Eunice Paiva,
que luta para criar os filhos e ainda descobrir o paradeiro do marido,
Rubens Paiva, sequestrado e morto na Ditadura Militar. "[Ele] era um
retrato pálido pra mim, estava desaparecendo... Ele foi levado e houve
um movimento grande para essa história desaparecer e é muito incrível
que hoje a família Paiva voltou à vida e o Rubens sempre estará aqui por
conta da literatura e do cinema. Não conseguiram apagá-los da memória",
pontua Fernanda Torres.
A artista ressalta que a vitória do filme brasileiro
também é uma conquista do cinema independente. 'Eu sinto "Ainda estou
aqui' primo do 'Anora', começa como comédia romântica e tem um twist.
Você sai do cinema pensando na busca de afeto pelo mundo",
declara. "Viajamos de país em país e fomos abraçados por pessoas
generosas. Em cada país tivemos o abraço de um representante do melhor
do cinema independente", acrescenta Walter Salles.
A vibração em torno do longa-metragem durante o Carnaval foi sentida
pelos atores, que estavam em Los Angeles, nos Estados Unidos, para a
cerimônia. "Todo mundo falava para mim que o Brasil estava uma loucura,
não sei o que aconteceu que o filme virou um movimento pátrio. As
pessoas não assistiram sozinho em casa, elas foram ao cinema e tiveram a
experiência coletiva. [...] Tivemos muito medo de não levar o Oscar
para casa. o Walter foi muito responsável por isso, subiu esse Everest
duas vezes na vida e só um cara com a sensibilidade dele que abduziu
minha mãe e me abduziu, para conseguir", analisa Fernanda.
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