O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decide nesta quarta-feira (11) sobre a possível elevação da taxa Selic , que é atualmente de 11,25% ao ano. O mercado financeiro projeta um aumento de 0,75 ponto percentual, o que elevaria a taxa para 12%. Essa expectativa reflete uma conjuntura econômica marcada por pressões inflacionárias persistentes, elevação do câmbio e temores fiscais.
Segundo o último Boletim Focus, que compila semanalmente estimativas de 120 instituições financeiras, as projeções para a inflação oficial medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) foram revisadas para 4,84% em 2024 e 4,59% em 2025.
Esses valores estão acima do teto da meta estipulada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), que é de 3%. O boletim também ajustou as expectativas para o câmbio, prevendo o dólar a R$ 5,95 no final de 2024, enquanto o PIB (Produto Interno Bruto) deve encerrar o ano com crescimento de 3,39%.
A Selic, definida pelo Copom, é a taxa básica de juros da economia brasileira. Ela serve como referência para os demais juros praticados no mercado, influenciando o custo do crédito, os investimentos financeiros e o consumo.
O aumento da Selic é uma ferramenta utilizada para conter a inflação, ao desestimular o consumo e os investimentos. Por outro lado, sua redução busca estimular a atividade econômica.
Nesta semana, o IEPS (Índice Equus de Precificação da Selic), que utiliza inteligência artificial para estimar a probabilidade de alterações na taxa de juros, apontou 60,2% de chance de aumento de 75 pontos base.
Além disso, houve um aumento significativo no volume de contratos futuros de juros em aberto, que subiu de 23.567 para 40.320, sinalizando maior aposta dos investidores na elevação da taxa.
A decisão do Copom também é influenciada por fatores como a pressão cambial, que tem impulsionado o dólar de R$ 5,40 para R$ 6,00 nos últimos dois meses. Esse movimento ainda não foi totalmente refletido nos preços ao consumidor, mas deve continuar a pressionar a inflação, especialmente em itens como alimentação e bebidas.
Pedro Oliveira, tesoureiro do Paraná Banco Investimentos, afirmou: “O dólar saiu de R$ 5,40 para R$ 6,00 nos últimos dois meses, isso ainda não foi totalmente repassado nos preços para o cliente final e, portanto, deve continuar pressionando a inflação.”
Para o CEO do Grupo Studio, Carlos Braga Monteiro, o Cenário exige uma postura mais agressiva do Banco Central.
“Na
reunião do Copom desta semana, o Banco Central pode adotar uma postura
mais agressiva, aumentando a Selic em até 0,75 p.p., dependendo da
avaliação do cenário econômico. Isso pode impactar negativamente setores
dependentes de crédito, como o varejo e a construção, mas visa
controlar a inflação e manter a estabilidade econômica", falou Braga.
Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, também pontuou que a alta da Selic reflete as preocupações do mercado.
“A alteração da taxa Selic de 11,75% para 12% está alinhada a uma série de temores que continuam rondando a economia brasileira, envolvendo a alta consistente do dólar e o tão conhecido risco fiscal. Para se ter ideia, as expectativas de inflação para todos os próximos anos foram revisadas para cima, o que acaba gerando maiores preocupações.”
Além disso, a dinâmica inflacionária tem sido impulsionada por fatores como o hiato do produto – indicador que mede a diferença entre o PIB efetivo e o PIB potencial – e pela taxa de desemprego, que caiu para 6,2%, refletindo utilização intensa de fatores de produção.
O aumento dos gastos governamentais também contribui para o aquecimento da demanda, elevando os preços de bens e serviços.
Investimentos
No
âmbito dos investimentos, o cenário de juros altos torna a renda fixa
mais competitiva. Títulos pós-fixados e atrelados à inflação, como o
Tesouro Selic e o Tesouro IPCA+, se beneficiam diretamente da Selic
elevada.
“A divulgação do Relatório Focus desta semana
reafirma um cenário desafiador para o mercado de investimentos, com
revisões para cima nas expectativas de inflação e juros para 2024 e
2025. A possível elevação da taxa Selic para 12% reflete o esforço do
Copom em conter pressões inflacionárias, mas também implica maior custo
de capital e volatilidade nos ativos de renda variável", afirmou
Jefferson Laatus, chefe estrategista do Grupo Laatus.
Por fim, a decisão do Copom também está ancorada na necessidade de resgatar a ancoragem das expectativas inflacionárias e garantir a estabilidade econômica.
Com o IPCA acumulado em 12 meses de 4,77%, ainda abaixo do teto da meta, mas acima do centro, a elevação da Selic é vista pelos especialistas como uma medida necessária para conter a inflação e evitar uma desancoragem futura das expectativas.
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