Prometendo trazer um "lado humano" para a condução dessa crise, tomou posse o novo ministro da Saúde, Nelson Teich. Em seu discurso, voltou a reforçar que não fará mudanças bruscas na condução da pasta e diagnosticou uma população amedrontada pela pandemia.
No que depender de seu superior, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o novo chefe da Saúde terá de somar outras facetas à sua atuação: "Junte eu e o [ex-ministro Luiz Henrique Mandetta] e divida por dois. Tenho certeza que você vai chegar naquilo que interessa para todos nós", afirmou.
Preocupado em reiterar seu alinhamento com o presidente, Teich repetiu que "saúde e economia não competem, elas são completamente complementares".
Em seu primeiro dia no cargo, participou de reuniões com a equipe do Ministério da Saúde, acompanhado de perto pelo assessor de comunicação do Planalto, Samy Liberman. Ele também teve encontro com o ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, e da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos.
No mesmo dia em que anunciou que enfrentará a desinformação, o novo ministro evitou contato com a imprensa e desmarcou as entrevistas coletivas da pasta que aconteciam diariamente.
Mandetta sai popular e com apoio da OMS
A difícil missão de substituir um dos membros mais populares do governo federal até agora ficou explícita em pesquisa Datafolha divulgada ontem: a saída de Mandetta do cargo no meio da crise é reprovada por 64% dos brasileiros. Há um empate técnico entre aqueles que acham que a pasta deve piorar (36%) e melhorar (32%) com a troca.Ao deixar o cargo, o ex-ministro evitou fazer menção direta aos atritos que teve até o momento com o presidente Jair Bolsonaro e se disse preocupado com o aumento de casos. "O mundo se dividirá em antes e depois do coronavírus. Todas as economias vão sofrer, as nossas vão sofrer, e muito nos preocupa a segunda onda."
Entre as muitas mensagens de apoio que recebeu, destacou-se a do chefe das operações da OMS (Organização Mundial da Saúde), Michael Ryan, que o agradeceu pelo serviço prestado à população brasileira.
"Sabemos que o presidente do Brasil trocou de ministro. É essencial, entretanto, que não só o Brasil, mas todos os governos, tomem decisões baseadas em evidências e tenham uma resposta do governo inteiro e da sociedade inteira ao responder à pandemia de Covid-19. Todos temos o dever de proteger nossas populações mais vulneráveis", afirmou Ryan.
Indiferente aos apelos da entidade, Bolsonaro contraria suas orientações desde o início da crise.
Em seu discurso ontem, voltou a falar sobre sua preocupação com a economia e incentivou a reabertura do comércio não essencial, indo na contramão de muitos prefeitos e governadores que adotaram medidas de restrição e com quem antagoniza. O presidente citou, sem esclarecer de onde tirara a informação, que metade dos prefeitos do país já desejariam a abertura do comércio.
"A história lá na frente vai nos julgar. Eu peço a Deus para que nós estejamos certos lá na frente. Então, essa briga de começar a abrir para o comércio é um risco que eu corro, porque, se agravar, vem para o meu colo."
Sinais de colapso nos estados
Enquanto o presidente investe em seu antagonismo com governadores e prefeitos, que têm autonomia para decidir sobre o isolamento social, segundo o STF (Supremo Tribunal Federal), o sistema público de saúde começa a dar sinais de colapso.No Amazonas, sem ter onde acondicionar os mortos pela doença, o hospital João Lúcio, em Manaus, precisou contratar um contêiner refrigerado para colocar os pacientes que vieram a óbito.
Já o Ceará anunciou que já tem oficialmente fila de espera de pacientes com quadros graves de covid-19 por falta de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Ontem, 38 pessoas aguardavam vaga para internação em UTIs nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento). O estado já havia anunciado a compra de 15 mil túmulos para enterrar os mortos pela doença.
Antecipando a aceleração dos casos, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) prorrogou a prorrogação da quarentena até o dia 10 de maio. A preocupação é justamente com a sobrecarga dos hospitais.
Entre os esforços para conter a epidemia de coronavírus, prefeitos de cidades brasileiras, de Norte a Sul, têm publicados decretos em que obrigam ou recomendam todos os cidadãos a usar máscaras em ambientes públicos.
Há apenas um dia no cargo, Teich não se pronunciou sobre a situação nessas cidades nem fez declarações taxativas sobre como se posicionará em relação ao distanciamento social — que ele apoiou no passado, mas é rechaçada por seu novo chefe.
A resposta pode vir já neste domingo, quando ele terá sua primeira prova de fogo e participará de uma reunião com ministros da Saúde dos países do G20 e deve apresentar a posição do Brasil frente à pandemia.
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