Casos de Covid-19 no Brasil é Muito maior que divulgados pelo Governo

 
Em meio à crise mundial provocada pelo novo coronavírus, o Brasil não sabe quantas pessoas estão com a covid-19. Pior, não temos nem um número aproximado.
Os dados divulgados diariamente pelas autoridades e centralizados pelo Ministério da Saúde estão longe de representar a realidade. Isso acontece basicamente por três motivos:
  • Em alguns locais, como São Paulo e Rio de Janeiro, só faz o teste quem está internado com quadro mais grave e sintomas da doença;
  • Mesmo quem consegue fazer o teste precisa esperar dias, às vezes mais de uma semana, para saber se está com covid-19;
  • A maioria das pessoas infectadas não apresenta nenhum sintoma, ou seja, não faz ideia se está contaminada.
O problema não é exclusividade do Brasil, nem de países mais pobres. Os europeus mais afetados pela pandemia, como Itália e Espanha, enfrentam a mesma situação. Até a pequena e rica Suíça passa por isso.
Já a Coreia do Sul conseguiu fazer testes em massa e colheu bons frutos no combate ao coronavírus.
Diante de um cenário incerto com números pouco confiáveis, médicos, fisioterapeutas, enfermeiros e auxiliares estão apreensivos e preparando-se para uma verdadeira guerra que está por vir.
Ao que tudo indica, as próximas semanas serão de apreensão, com ruas cada vez mais desertas, UTIs lotadas e o número de mortos subindo.

É possível saber o número real?

Saber a quantidade real de pessoas contaminadas e o local onde elas se encontram seria uma arma importante no combate à pandemia no Brasil. Mas como isso seria possível?
"Só existe uma maneira de nós termos os registros de todos os casos, mesmo os assintomáticos: se nós tivéssemos capacidade e condições, o que nenhum país tem, de fazer testes em toda a população, 100% da população", diz o secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo dos Reis.
As autoridades dizem não haver kits suficientes para testar todos os casos suspeitos, muito menos a população inteira. Fora isso, como cresceu muito a procura pelo teste na semana passada, o resultado passou a demorar muito para sair.

Foi o caso do estudante da USP Fernando Benicchio, retratado em reportagem do UOL, que continuava à espera do resultado uma semana após fazer o teste na rede pública.
"Não existe nenhum país do mundo com um sistema de saúde 100% preparado para ser acionado em massa para testes", disse o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, durante entrevista a jornalistas na terça-feira (17).
A pasta informou que planeja adquirir mais testes para diagnóstico. Ao todo, serão 2,3 milhões de kits, mas eles só têm capacidade para atender cerca de 1,1% da população brasileira.

Enquanto não consegue ampliar o número de pessoas testadas, o Ministério da Saúde reúne os dados das secretarias estaduais e divulga diariamente. Em seu último balanço,  falava em 2915 casos oficialmente confirmados e 77 mortes. Mas esse número pode chegar de 5 a 30 vezes mais do que relatado pelo governo.

Infectados podem ser de 5 a 30 vezes o número oficial

Mesmo não representando a realidade, os números oficiais podem ser o ponto de partida, se levarmos em conta pesquisas recentemente publicadas sobre a expansão da doença em outros países.
Um estudo com base no caso da China, país de origem do vírus, estimou que 86% das pessoas infectadas não apresentavam sintomas da doença. E foram justamente elas que ajudaram a espalhar o coronavírus por lá. Até o momento, o país asiático contabiliza mais de 80 mil casos.
Uma pesquisa feita nos Estados Unidos, levando em conta aspectos locais, considerou que o número real de casos pode ser entre cinco e 30 vezes a contagem oficial. Espelhando isso para o Brasil, podemos estar diante de até 27 mil contaminados, neste momento. Mas ninguém sabe ao certo.
A projeção utilizada pelo governo brasileiro é a de que o número de casos pode dobrar a cada três dias se não forem adotadas medidas de restrição do contato social, como o cancelamento de eventos e a suspensão de aulas.
Um estudo realizado por pesquisadores da PUC-Rio, Fiocruz e Instituto D'Or da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro estimou que, até o dia 26 de março, no pior cenário projetado, o Brasil pode ter até 4.970 casos confirmados de coronavírus

Diante de pandemia, países são obrigados a escolher entre mortes e economia

Diante do avanço de uma pandemia como a do novo coronavírus, os governos têm de escolher, por mais estranho que pareça à primeira vista, qual o ritmo de espalhamento de infecção que se busca. As opções são:
  1. Bloquear ao máximo o espalhamento, o que vai fazer com que a epidemia dure mais, mas seja menos severa a cada momento (o que se chama de "supressão");
  2. Liberar o vírus para circular, situação em que a imunização coletiva é mais rápida, porém com um pico muito mais alto de contaminação e mortes;
  3. Optar por uma solução intermediária, que consiste num delicado jogo de controle baseado no fato de que é impossível controlar o espalhamento. É a chamada "mitigação".

Embora um fator crucial nessa tomada de decisão seja o número de mortes, é preciso levar em conta também outras questões, como o impacto econômico -- uma recessão aguda e prolongada pode provocar mortes no período seguinte.
O Brasil tem prestado atenção nas estratégias usadas fora do país para tomar essa decisão, mas parece esquecer que muitas delas não se aplicam à maior parte da população daqui. O caso mais evidente é a questão do isolamento. Como disse de forma enfática o líder da comunidade de Paraisópolis: é impossível fazer isolamento.

Assim como no Brasil, na Espanha e na Itália, a política oficial é de fazer testes apenas em pacientes mais graves ou que apresentem sintomas.
Em meio à incerteza sobre os números de casos e o temor em relação à capacidade das redes pública e privada em combater o novo coronavírus, o Brasil aos poucos começa a parar para a guerra contra a doença, ao mesmo tempo em que olha para a Europa e China sabendo que o pior está por vir.

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