Deve-se ressaltar que a trilogia original de filmes Star Wars também havia formado grande parte de sua narrativa e arcos conforme avançava, assim concebendo momentos emblemáticos e histórias de fundo marcantes, porém o fazia com o advento de ser o ponto de partida para um horizonte repleto de possibilidades. A Ascensão Skywalker, por sua vez, chega aos cinemas após mais de quatro décadas de reverência à franquia e seu cânone expansivo, sem a mesma margem de erro generosa para completar a missão.
Portanto há muito o que amarrar e ainda apresentar em suas duas horas e vinte de projeção, cuja passagem é sentida nas situações que se acumulam uma sobre a outra. Há também o compromisso tardio de reformular diversos elementos narrativos, na tentativa de reconquistar parte da base de fãs, o que soma a uma agenda lotada. Já desde a introdução, A Ascensão Skywalker deixa novas perguntas, mesmo quando está apresentando respostas aos mistérios dos episódios anteriores, sem se certificar de que há tempo suficiente para esclarecimentos – não há.
No entanto, como sempre, o esmero visual encontrado aqui, além do respeito pela construção de atmosfera, são capazes de sustentar o interesse de momento a momento, vez ou outra culminando em um instante belíssimo de magia cinematográfica – o “duelo” de Rey (Daisy Ridley) e Kylo (Adam Driver) no deserto é de tirar o fôlego. Em outras ocasiões, A Ascensão Skywalker ainda é capaz de minerar algumas das melhores ideias de seu predecessor para complementar a ação, como a conexão da força entre Rey e Kylo, resultando num jogo elegante de montagem e coreografia que faz jus aos melhores embates da saga.
Por falar em Rey e Kylo, estes dois continuam donos dos arcos mais interessantes da atual trilogia, mas é uma pena que ganhem, desta vez, um tempo de desenvolvimento menos equilibrado. As descobertas da heroína sobre seu passado e identidade são expandidas de forma mais instigante aqui – já era hora! -, porém o excelente antagonista possui tempo de tela limitado para que a conclusão de seu arco, o mais emotivo e promissor da nova safra, seja suficientemente bem amarrado. Ao menos, há duas grandes cenas dramáticas que aproveitam a potência do ator Adam Driver e fixam Kylo como uma das personagens mais trágicas e fascinantes da série.
É uma pena que as demais personagens, como Finn (John Boyega) e Poe (Oscar Isaac), aqui sejam muito pouco além de alívios cômicos, ainda ganhando – ambos – contrapartes românticas para dizer que não deixaram de receber conclusões satisfatórias. Por outro lado, é surpreendente notar como Leia fica bem posicionada na trama apesar do inesperado falecimento de Carrie Fisher, com aparições curtas mas presença não menos que monumental, que é incorporada a um dos mais climáticos momentos do longa. De resto, outros rostos – e vozes – familiares retornam com bons resultados, mas caso tenha evitado spoilers até agora, não ousaria entregá-los aqui.
Caso o espectador procure em Star Wars: A Ascensão Skywalker
uma aventura espacial repleta de caprichos estéticos, que corra em um
ritmo constantemente acelerado e forneça algumas possibilidades de
vínculo emocional, sua vontade será muito provavelmente satisfeita, isto
é, desde que não guarde um grande apreço por desfechos catárticos a
suas franquias favoritas. Como o ponto final à saga Skywalker, contudo, A
Ascensão Skywalker parece não reconhecer todo o peso do legado que o
precede, ao mesmo tempo que joga demais no seguro, criando suspense sem
de fato surpreender ninguém.