
Rodrigo Linhares, técnico do Dieese responsável pelo banco de greves do órgão, aponta 3 motivos para a redução.
- economia patinando – alta taxa de desemprego, que ficou em 11,6% no trimestre encerrado em outubro, a elevada informalidade (atualmente 36 milhões de pessoas trabalham sem carteira de trabalho assinada ou por conta própria) e pessimismo dos setores grevistas relação à possibilidade de vitória diante da situação fiscal do país;
- sindicatos fracos – essas organizações perderam força e recursos nos últimos anos. Segundo estimativa , a arrecadação das entidades com contribuições sindicais deve cair 80% em 2019. O volume de recursos atingiu R$ 91,7 milhões no acumulado de janeiro a novembro. Em 2018 inteiro, foi de R$ 500 milhões;
- governo hostil – temor da possível reação da gestão de Jair Bolsonaro com as categorias. O presidente emite sinais hostis a possíveis paralisações.
Na esfera privada, o setor de serviços foi responsável por 77,8% (404) dos movimentos grevistas registrados. A indústria representa 21,6% (112), seguida do comércio, com 0,6% (3).
Apesar disso, segundo Linhares, a quantidade de paralizações registrada em 2019 está em 1 patamar elevado para a série histórica. “É o menor número de greves desde 2013. Mas ainda assim é 1 número muito mais alto do que toda década de 90 e a 1ª década dos anos 2000. Esses números vêm diminuindo nesse compasso. De 2017 para 2018, o percentual [de queda] foi no mesmo patamar de 2019.”
O especialista, no entanto, se diz surpreso que o número não tenha caído mais em 2019. Segundo ele, todos os indicadores apontavam para uma maior redução. Mas houve uma mudança no perfil do movimento grevista.
A maior parte das paralisações deste ano (81,3%) foi catalogadas como “defensivas” pelo Dieese. Ou seja, as categorias batalharam para não perder benefícios já adquiridos. “Tem uma particularidade nessas greves. Se a gente compara as reivindicações de 2018 e 2019 com as de 2013 e 2014, vemos que são muito diferentes. A grande questão hoje é o atraso salarial, principalmente em empresas contratadas pelo Estado”.
“Legalmente, para os governos, é mais complicado atrasar o pagamento daqueles funcionários estatutários do que atrasar repasse para empresas. [Os governos] continuam pagando o funcionalismo público, mas em situação de dificuldade orçamentária, a 1ª área a receber os cortes na falta de dinheiro são as empresas. Esses funcionários ficam ainda mais fragilizados por conta disso”, afirmou o técnico.
Linhares sugere que uma melhor regulação e fiscalização dos setores pode ajudar a mitigar esse tipo de problema.