Em menos de seis meses, o presidente Jair Bolsonaro promoveu
uma limpa no governo: demitiu seis chefes de ministérios, empresas
públicas e órgãos ligados à administração federal. Não por indícios de
corrupção como aconteceu no início do governo Dilma Rousseff (PT), mas
por falta de afinidade ideológica ou administrativa. Até o momento, já
foram alvo da faxina bolsonarista o ex-ministro da Secretaria de Governo
Santos Cruz, o ex-presidente do BNDES Joaquim Levy, os generais
Franklimberg Ribeiro de Freitas, ex-presidente da Funai, e Juarez da
Paula Cunha, ex-presidente dos Correios – além do ex-Secretário-Geral da
Presidência Gustavo Bebianno e o ex-ministro da Educação Ricardo Vélez
Rodrigues. A maioria deles, amigos de farda do presidente, o que mostra
que o capitão não tem levado em consideração nem mesmo à hierarquia
militar para por em ação sua vassoura saneadora. Em todos os casos houve
um similar método de fritura, atingindo inclusive pessoas indicadas
pelo próprio presidente, como o próprio Santos Cruz. Na prática,
Bolsonaro emitiu um claro recado aos demais integrantes do governo: não
existe ministro indemissível e a tal carta branca franqueada pelo
presidente no início do mandato era, na realidade, de outra cor.
“Não aceito traição”
Bolsonaro parece exercitar o seu lado militar, estilo “preto no
branco”, ao definir quem vai seguir ou não com ele até o fim do governo.
De acordo com auxiliares do Planalto, o presidente tem sido bem
pragmático ao tratar do tema: não vai tolerar mais qualquer tipo de
flerte de seus ministros com a chamada velha política, em tentativas de
conchavos que ele considere pouco republicanos. Não que estes ministros
tivessem algum envolvimento com esquemas de corrupção, mas todos
perderam os empregos quando o presidente teve conhecimento de que eles
estavam articulando ações contrárias às que ele pregou na campanha. “Não
aceito traição no meu governo”, disse o presidente Bolsonaro em recente
reunião.
De todas essas exonerações, as de Santos Cruz, Joaquim Levy e
Bebianno talvez tenham sido as mais simbólicas nessa linha. Embora amigo
de Bolsonaro, Santos Cruz vinha sendo cozinhado em banho-maria há algum
tempo. Pesaram contra ele os confrontos com Olavo e seu filho Carlos. O
general foi acusado de ser complacente com a esquerda, atendendo
parlamentares de siglas oposicionistas e também de articular acordos com
integrantes da chamada “velha política”, recebendo no Palácio do
Planalto integrantes de partidos como o PL, Solidariedade, DEM e PP.
Além disso, bateu de frente com Carlos por causa das verbas de
publicidade do governo.
Outros dois amigos que Bolsonaro precisou varrer do governo foram os
generais Franklimberg de Freitas (Funai) e Juarez Cunha (Correios). O
presidente dos Correios foi demitido pela imprensa. Durante café da
manhã realizado na quinta-feira 13 com jornalistas, Bolsonaro disse que
demitiria Cunha da presidência dos Correios porque ele “estava agindo
como sindicalista”. Ele foi ao Congresso e lá defendeu que a estatal não
fosse privatizada, como deseja o governo. Outro que foi exposto
publicamente foi o ex-presidente do BNDES, Joaquim Levy. Há tempos, o
presidente vinha pedindo para ele abrir a “caixa preta” do banco,
revelando detalhes das operações ilegais que Lula e Dilma fizeram no
órgão. Mas Levy não atendeu o presidente. Resultado: foi praticamente
defenestrado do governo no sábado 15, durante uma entrevista coletiva na
qual Bolsonaro dizia estar “por aqui” com ex-todo poderoso do BNDES.
Ele apressou-se e demitiu-se no domingo, antes mesmo que a vassoura de
Bolsonaro o alcançasse.