Epicentro inicial da pandemia do Covid-19, a China deu mais
um passo na busca por uma solução para a doença: duas novas vacinas
terão os testes clínicos em seres humanos iniciados para analisar sua
eficácia. Ambas são inativadas, ou seja, quando os microrganismos são
produzidos pela inativação ou morte do vírus durante o processo de
fabrico.
Segundo informações do site chines Caixin, uma das vacinas
foi desenvolvida pelo Instituto de Virologia de Wuhan, cidade em que os primeiros casos do novo coronavírus
(Sars-Cov-2) foram identificados, e recebeu o aval para a realização
dos testes no último domingo (12). Já a segunda é resultado do trabalho
de um grupo de empresas que já foi importante no desenvolvimento de uma
vacina contra a Síndrome Respiratória Aguda e Grave (SARS) em 2003.Ainda de acordo com a publicação, as fases iniciais dos testes devem durar até 10 de novembro de 2021 e contarão com a participação de quase 1400 voluntários, que foram recrutados na província de Henan. O projeto conta com o apoio financeiro do ministério chinês da Ciência e Tecnologia.
"Processo tem muitos becos sem saída"
Apesar de animadora, mesmo com um prazo longo, a
aceleração do processo de testes de uma vacina pode trazer sérias
consequências se não houver o devido acompanhamento e rigidez nas normas
de segurança
. Como avalia um especialista, o desenvolvimento de uma vacina é "longo, complexo e com muitos becos sem saída"."Para contextualizar um pouco dessa dificuldade: não há vacinas eficientes para a maior parte dos organismos patogênicos que infectam humanos, embora vários desses patógenos sejam estudados há décadas pelos cientistas ", afirma o professor Francisco Pereira Lobo, do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução da Universidade Federal de Minas Gerais.
Segundo ele, a atual etapa de testes na China seria a última de validação da eficácia e efeitos adversos de uma vacina. Entretanto, ele ressalta que a aceleração ou realização de etapas simultâneas, como a avaliação de segurança e eficácia em grupos pequenos, pode acabar se tornando um problema e até tornando o processo inviável.
"Se os candidatos que estão sendo testados forem descartados em alguma das etapas, isso faria o processo regredir. Esse é um dos motivos que torna o desenvolvimento de vacinas algo demorado e caro", afirma Lobo.
Por fim, ele aponta que, apesar da urgência para o desenvolvimento de tratamentos eficazes contra o Covid-19 , é preciso ter cuidado para evitar um cenário onde um medicamento cause efeitos adversos desconhecidos em parte da população, como grávidas, idosos ou pessoas com determinada composição genética.
"um exemplo trágico ocorreu com a talidomida, um medicamento aprovado em uma época onde os testes de segurança eram menos rigorosos e que foi utilizado para prevenir enjoo na gravidez. Posteriormente, descobriu-se que ele causava má formação nos fetos em desenvolvimento, o que resultou em uma geração de pessoas com diversos tipos de problemas físicos. Como este, há diversos outros relatos semelhantes na literatura médica", finaliza o professor
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